Esboço e Breve Reflexão
Pastor Washington Roberto Nascimento
Tema: Jesus, o Cristo, é melhor, é superior
1. Esta Carta aos Hebreus mostra o rompimento com o judaísmo.
2. O escritor desta obra interpreta o Antigo Testamento à luz da nova revelação de Jesus como o Messias.
A interpretação (a hermenêutica do Antigo Testamento) não foi histórica, foi baseada na pessoa de Jesus, o Cristo.
O escritor bíblico interpreta o Antigo Testamento como uma sombra - σκιά – (lê-se: esquiá – Hb. 8:5; 10:1) da realidade que é Jesus, o Cristo.
Essa palavra grega - σκιά – (lê-se: esquiá – Hb. 8:5; 10:1) - significa: sombra, contorno que circunscreve uma superfície, uma figura, uma pessoa, um objeto.
A influência platônica é grande sobre a hermenêutica do escritor bíblico:
O dualismo:
mundo imperfeito x perfeito
físico x espiritual
temporal x eterno
transitório x perene
o engano dos sentidos (Hb. 11:3)
3. Em Jesus temos algo superior e melhor.
3.1. Melhor mensageiro – Hebreus 1:1-2.
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho”.
“A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”.
3.2. Melhor revelação – Hebreus 2:3. A revelação que trouxe tão grande salvação.
“Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram”.
3.3. Melhor Apóstolo – Hebreus 3:1.
“Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão”.
3.4. Melhor Sumo-Sacerdote – Hebreus 4:14.
“Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão”.
3.5. Melhor Concerto, Aliança, Pacto – Hebreus 8:13.
“Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar”.
3.6. Melhor Sacrifício – Hebreus 10:9-12.
“Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo”.
“Na qual vontade temos sido santificados pela oblação (dádiva/oferta) do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez”.
3.7. Melhor Caminho – A Fé – Não a Lei - Hebreus 10:38.
“Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele”.
O melhor caminho é o da fé em Jesus Cristo, e não o da lei.
4. Autoria e pensamento teológico dominante
4.1. Baseados na leitura da Carta aos Hebreus não temos como dizer quem foi o seu autor.
4.2. Eusébio, um líder cristão que viveu no século III A.D, disse que só Deus sabe a verdade com relação ao verdadeiro autor desta epístola.
4.3. Apenas o final da Carta aos Hebreus faz lembrar uma carta de Paulo (Hb. 13:22-25).
4.4. O início da Carta aos Hebreus não tem nenhuma relação com todas as outras cartas do apóstolo Paulo (Hb. 1:1-14).
4.5. De acordo com Orígenes, um líder cristão que viveu de 180 a 250 AD, o caráter da linguagem da epístola intitulada: Aos Hebreus, não tem a rudeza do apóstolo Paulo no estilo.
4.6. Portanto, o grego da Carta aos Hebreus é bem superior em padrão literário do que Paulo exibe em suas cartas.
4.7. Mas essa Carta ao Hebreus aparece no cânon no final das cartas paulinas, dando a entender que foi admitida como uma obra do apóstolo Paulo. A primeira carta de Paulo no Novo Testamento é Romanos, porque é a maior. A menor é Filemom, que é a última, seguida de Hebreus, que na verdade não é uma carta, é uma obra apologética, hermenêutica. Hebreus poderia ser o primeiro livro do Novo Testamento, mas não é porque encontra-se ligado a autoria paulina e por isso encontra-se no cânon do Novo Testamento no final das cartas de Paulo.
4.8. Há quem acredite que Lucas, o escritor do Evangelho e do livro de Atos, tenha sido o escritor da Carta aos Hebreus, pois era um homem letrado. O grego de Hebreus é de alguém culto.
4.9. Apolo é outro nome apresentado como possível escritor da Carta aos Hebreus. Ele é natural de Alexandria, Egito, o maior centro cultural do mundo de então, e é apresentado no Novo Testamento como eloquente e poderoso nas Escritura (At. 18:24-27; 19:1; I Co. 1:12; 3:4; 4:6; 16:12; Tt. 3:13).
4.10. Outro candidato à autoria da Carta aos Hebreus é Barnabé. Seu nome era José, mas foi cognominado (apelidado de) Barnabé que significa: Υἱὸς παρακλήσεως – Filho da Consolação (At. 4:36). Essa palavra relacionada ao significado do nome (apelido) Barnabé - παρακλήσεως - aparece como título do sermão do escritor da Carta Hebreus (Hb. 13:22). Barnabé era um homem culto, piedoso, levita, conhecedor da Bíblia Hebraica. Na cidade de Listra, n primeira viagem missionária com Paulo, multidões o chamaram de Júpiter, o deus dos deuses da mitologia romana, que é o mesmo deus grego Zeus (At. 14:8-14). Ele foi um líder notável da Igreja Primitiva.
4.11. A teologia do escritor da Carta aos Hebreus é a mesma teologia do Apóstolo Paulo. Quem quer que tenha escrito esta obra, tinha a mesma hermenêutica (interpretação) para a Bíblia Hebraica que o Apóstolo Paulo (Rm. 2:28-29; 9:6-8; II Co. 3:6; Gl.3:6-29; Fp. 3:2-9; Cl. 2:6-23). Um influenciou o outro ou ambos se influenciaram mutuamente em termos teológicos.
12. O Novo Testamento, em termos gerais, apresenta uma hermenêutica alinhada com a do escritor da Carta aos Hebreus (Mt. 2:1-18; Os. 11:1-2; Jr. 31:15; etc.).
5. Data
5.1. A data em que a carta aos Hebreus foi escrita é anterior ao ano 90 AD., pois neste tempo a Carta aos Hebreus foi mencionado num escrito de Clemente de Roma, líder Cristão durante os anos de 88 a 97 AD, batizado pelo apóstolo Pedro.
5.2. Baseados em Hebreus 10:1-3, podemos dizer que quando a Carta aos Hebreus foi escrita o sacrifício no templo em Jerusalém ainda acontecia, assim sendo, a carta foi escrita antes da destruição do templo no ano 70 AD.
5.3. É possível que esta carta tenha sido escrita no início dos anos 60 AD.
6. Notas Gerais
6.1. Este livro parece um breve sermão de exortação, consolo, encorajamento, segundo as palavras do próprio escritor (Hb. 13:22).
“Eu, porém, vos exorto, irmãos - Παρακαλῶ δὲ ὑμᾶς ἀδελφοί – que suporteis a palavra de exortação - παρακλήσεως – que abreviadamente vos escrevi”.
Vem do verbo - παρακαλέω – que significa: chamar, convocar, convidar, suplicar, implorar, exortar, admoestar, confortar, encorajar, consolar.
O Espírito Santo é chamado na Bíblia de: παράκλητος – tem tudo a ver com o sermão do escritor da Carta aos Hebreus. São palavras que têm a mesma raiz.
Παράκλητος significa: Consolador, ajudador, confortador, encorajador, advogado.
παρακαλέω é formado por duas palavras: παρά (do lado, ao lado) + καλέω (chamar, convidar) – literalmente significa: aquele que chama outra pessoa para ficar do seu lado.
6.2. Três tipos de pessoas – Hebreus 6:1-12.
6.2.1. Este é um dos textos mais difíceis de interpretação da Bíblia.
6.2.2. Nele nós encontramos três pronomes que falam de três tipos de pessoas.
6.2.3. Procure no texto os três pronomes: Nós, vós e eles.
6.2.4. Nós – Os crentes firmes, que juntamente com o escritor, estão aconselhando, exortando.
6.2.5. Vós – Os crentes que estavam sendo perseguidos e tentados a abandonar o cristianismo e voltar para o judaísmo.
6.2.6. Eles – Pessoas que frequentaram (e frequentam) os cultos e trabalhos cristãos, semelhantes àqueles que foram resgatados do Egito, mas que não se converteram a despeito de todos os sinais e maravilhas que viram (Êx. 12:38; Nm. 11:4)
6.3. Jesus Cristo é melhor
6.3.1. Ele é melhor do que os anjos, pois estes o adoraram (Hb. 1:6).
6.3.2. Ele é melhor do que Moisés, pois Moisés foi servo na casa, Jesus foi Filho (Hb. 3:5-6).
6.3.3. Ele é melhor que Arão.
6.4. Jesus Cristo é melhor, por isso é que de seus seguidores se espera coisas melhores.
Hebreus 1:4.
“Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles”.
Hebreus 6:9,
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores que acompanham a salvação”.
6.5. Exemplos de Fé (Hb. 11).
São pessoas que confiaram em Deus mesmo quando não tinham coisa alguma, material ou concreta, para se agarrarem, mas apenas a Palavra do Senhor.
6.6. “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb. 11:6).
6.7. “A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêm” (Hb. 11:1).
6.8. A Carta aos Hebreus ensina aos crentes que insistem em seguir o judaísmo que, aqueles que seguem a Jesus, pela fé, têm muito mais a ganhar do que a perder por obedecerem a nova aliança e abrirem mão da velha.
9. O texto chave deste livro encontra-se em Hebreus 12:1-2.
“Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos com paciência a carreira que nos está proposta”.
"Olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado a desrra do tono de Deus".
10. Um gráfico ilustrativo de parte do conteúdo da Carta aos Hebreus
Arão - Moisés |
Jesus |
Transitório 7:11,23. |
Eterno 7:21,24,25. |
Templo terreno 9:1. |
Templo celestial 8:1. |
Pecador 5:1-3. |
Não Pecou 4:15. |
Velha aliança 8:9. |
Nova aliança 8:6-8. |
Sangue animais 9:19. |
Sangue de Jesus 9:26. |
Lei – Condenação 10:28. |
Fé - Salvação 10:38-39. |
Jerusalém terrena 12:18. |
Jerusalém Celestial 12:22. |
11. A Carta aos Hebreus é uma obra extraordinária de interpretação (hermenêutica) da Bíblia Hebraica, o Antigo Testamento.
12. O Novo Testamento é uma grande obra de interpretação da Bíblia Hebraica.
Os escritores do Novo Testamento conheciam e usaram o texto Grego da LXX – Septuaginta.
Mateus 1:1 aponta para o texto Grego da LXX – Septuaginta de Gênesis 2:4.
Αὕτη ἡ βίβλος γενέσεως (Gn. 2:4).
Βίβλος γενέσεως (Mt. 1:1).
João 1:1 aponta para o texto da LXX – Septuaginta de Genesis 1:1.
Ἐν ἀρχῇ ἐποίησεν ὁ θεὸς (Gn. 1:1).
Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος (Jo. 1:1).
13. A Carta aos Hebreus, semelhante a todo o resto do Novo Testamento, interpreta a Bíblia Hebraica contra a superioridade do conteúdo da Bíblia Hebraica: do culto, da revelação, dos pactos, etc.
14. Um breve esboço geral com notas especiais
Do capítulo 1 ao capítulo 13
14.1. Introdução e tese (Hb. 1:1-2).
O contraste entre o Velho e o Novo
A superioridade do Novo em relação ao Velho
14.2. A superioridade de Jesus em relação aos anjos (Hb. 1:3-2:18).
Deus nunca disse para um de seus anjos o que Ele disse para Jesus: Tu és meu filho, hoje eu te gerei (Hb. 1:5; 5:5; Mt. 3:16-17; Mc. 1:10-11; Lc. 3:21-22; At. 2:29-35; 13:30-37; Rm. 6:3-9; Sl. 2:7; Sl. 16:10; Sl. 110:1).
Os textos acima falam do batismo e da ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. O batismo de Jesus aponta para sua morte e ressurreição. No seu batismo, Mateus, Marcos e Lucas dizem que o Espírito de Deus desceu sobre ele como uma pomba - περιστερά – (lê-se: peristerá). Cada letra do alfabeto Grego tem um valor numérico. A soma de cada letra da palavra pomba em Grego - περιστερά – é igual ao número 801, que em Grego é igual a soma das letras: α (alfa) e ω (ômega). α (= 1) ω (= 800).
Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega – Ele é Deus.
- α (= 1) + ω (= 800) = 801
No seu batismo e na sua ressurreição temos o sinete de Deus sobre sua vida, sua divindade revelada e selada.
14.3. A superioridade de Jesus em relação a Moisés e Josué (Hb. 3:1-4:13).
14.4. A superioridade de Jesus em relação ao sumo-sacerdote (Hb. 4:14-5:14).
14.5. Digressão – Nós, vós e eles – Um ensino (doutrina) mais elevado (Hb. 6:1-20).
14.6. Jesus é comparado a Melquisedeque (Hb. 7:1-28).
Melquisedeque é superior a Abraão e aos sacerdotes levitas.
Jesus é o novo Melquisedeque.
14.7. A superioridade de Jesus – sombra x realidade (Hb. 8; 9; 10)
Símbolos x realidade
Velho x novo
14.8. A superioridade de Jesus em termos éticos e práticos (Hb. 11; 12; 13).
Exemplos (Hb. 11).
Encorajamento (12)
Conselhos finais – práticos (13)
Uma breve reflexão à Carta aos Hebreus
Pastor Washington Roberto Nascimento
A Carta aos Hebreus foi escrita originalmente para aqueles que eram judeus de nascimento terreno, humano, mas cristãos em termos espirituais. Esses cristãos judeus, eram mais judeus do que cristãos. Eles estavam sendo tentados por falsos mestres a considerarem Jesus e Moisés no mesmo pé de igualdade; Jesus e os profetas, no mesmo de igualdade; o sacrifício de Jesus e os sacrifício de animais no templo no mesmo pé de igualdade; os ensinos de Jesus e os ensinos do judaísmo no mesmo pé de igualdade.
A Carta aos Hebreus mostra, portanto, a superioridade de Jesus, de seus ensinos, vida, sacrifício. Jesus é incomparável. Não há ninguém, nem coisa alguma semelhante.
O escritor desta Carta pede aos seus leitores que deixem de ser bebês, parem de viver tomando leite e comecem a ter uma dieta espiritual de adultos (Hb. 5:11-14). Ele insiste para que seus leitores não se deixem enganar por ensinamentos falsos, legalistas, diferentes dos ensinos centrados na pessoa do Senhor Jesus, em Seus ensinos, morte, ressurreição, poder e graça (Hb. 13:9).
Nesta Carta aos Hebreus há dezenas de referências ao Antigo Testamento. Todas essas referências visam mostrar de maneira clara e contundente a superioridade de Jesus Cristo. Esta é a ideia central desta obra. Jesus Cristo é superior, é melhor. Seus ensinos são superiores, sua ética, seu sacrifício, sua palavra, seus benefícios, tudo relacionado a Jesus é superior, Ele é melhor. Nele, isto é, em Jesus, tudo se cumpre, tudo se realiza. As coisas do passado ganham significado e importância com Jesus. Sem ele, tudo fica reduzido a sombra, a nada.
Embora não saibamos o nome da pessoa que escreveu esta Carta, sabemos, contudo, que ela é inspirada por Deus. Os maravilhosos ensinos sobre a pessoa de Jesus têm suas raízes no Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento ganha sentido e relevância à luz da pessoa, vida, e obra do Senhor Jesus Cristo.
Portanto, deixemos tudo o que nos atrapalha e continuemos a correr a corrida cristã, com os olhos fixos em Jesus (Hb. 12:1-2). Um forte abraço.