Um Breve Estudo No Livro de Jó

Data publicação 14/12/2016

Esboço e Breve Reflexão no Livro de Jó

Pastor Washington Roberto Nascimento

Um Breve Estudo No Livro de Jó

Título

1. O título deste livro vem de seu personagem principal: Jó, que na língua original é: -  אִיּוֹב– (lê-se: ióv) - que é um substantivo próprio - Jó.

2. O título deste livro é o mesmo em todas as línguas.

3. Jó, em hebraico, significa: Perseguido.

Autoria e Data

1. Não há indicação interna que diga quem foi o autor deste livro.

2. De acordo com a tradição judaica talmúdica, este livro foi escrito por Moisés, pois a terra de Uz mencionada em Jó 1:1 é adjacente a Midiã, terra onde Moisés viveu por 40 anos (Êx. 2:14-22).

3. Este livro deve ter sido escrito por volta do século VI a.C.

4. Precisamos sempre lembrar que a história do livro antecede o seu registro, isto é, o registro da história. A história primeiro existiu em forma oral e só depois tomou forma escrita. A história de Jó é, possivelmente, de um tempo anterior a Moisés, que deve ter vivido por volta do século XV a.C.

5. Jó deve ter vivido no mesmo tempo que Abraão viveu tendo em vista sua longevidade.

5.1. Jó deve ter vivido até 200 anos. Ele viveu mais 140 anos depois de todos os eventos registrados em seu livro (Jó 42:16). Para ter tido filhos e filhas antes das perdas e da enfermidade (Jó 1:1-4), ele deve ter vivido uns 50 anos quando o livro começa (Jó capítulos 1 e 2). Assim sendo, 50 mais 140, 190 anos, no mínimo.

5.2. Abraão viveu 175 anos (Gn. 25:7).

5.3. A riqueza de Jó encontra-se marcada pelo quanto de animais que ele tem (Jó 1:3; 42:12), e não pelo ouro ou prata, semelhante, portanto, ao tempo de Abrão, Isaque e Jacó (Gn. 26:12-14).

5.4. Não há referência a Israel, a lei de Deus e a aliança do Senhor no livro de Jó. Esses são temas importantes, em termos gerais, nos livros da Bíblia.

5.5. A teologia do livro de Jó pertence ao período pré-exílio quando se cria que tanto o bem quanto o mal vinham da parte de Deus (Jó 1:11).

“Estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face!”

O livro de Jó e Jesus Cristo

1. Jó declara a sua fé no Redentor que vive (Jó 19:25-27).

2. Este Redentor é Jesus, cheio de misericórdia, que nos ajuda em tempo oportuno (Hb. 4:15-16).

3. Em Jesus aprendemos a razão do sofrimento (Jo. 9:1-3; Rm. 8:31-39).

4. Podemos manifestar a glória de Deus através:

4.1. Do louvor,

4.2. Da pregação,

4.3. Do ensino,

4.4. Dos milagres,

4.5. Do sofrimento.

Pouca gente quer ser usada por Deus para revelar a Sua glória através do sofrimento. Jó, o cego de nascença, Paulo e Silas, etc. foram usados por Deus para revelar a Sua glória através do sofrimento (Jo. 9:1-41; II Co. 11:23-33; At. 16:22-25). Jesus é um exemplo de homem de dores, que sabe o que é sofrer (Is. 53).

              Notas Gerais

1. O livro de Jó conta a história de um homem que perdeu:

1.1. Riqueza (Jó 1:13-17).

1.2. Filhos (Jó 1:18-22).

1.3. Saúde (Jó 2:7-8).

1.4. Esposa (Jó 2:9-10).

1.5. Amigos (Jó 2:11, etc.).

2. O livro de Jó trata da questão/pergunta: Por que sofremos? Este é o grande tema/assunto deste livro.

3. Jó é um exemplo de quem perde tudo e não entende nada, mas que a despeito disto não perde a sua fé. Não somos poupados do sofrimento porque somos filhos de Deus.

Vejamos alguns textos bíblicos do livro de Jó que têm maravilhosas lições para as nossas vidas

Jó 1:20-22.

"Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou".

"E disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor".

"Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma".

Jó 2:9-10.

"Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre".

"Então ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; recebemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios".

4. Jó é mencionado em outros livros da Bíblia. Isto indica que ele foi um personagem histórico (Ez. 14:14, 20; Tg. 5:11), reconhecido por sua justiça e paciência.

5. Os amigos de Jó queriam arrancar de Jó uma confissão de pecado, para que eles pudessem dormir em paz, pois caso Jó estivesse sofrendo mesmo tendo sido uma pessoa justa, seus amigos estariam sujeitos aos mesmos sofrimentos a despeito da retidão de suas vidas, mesmo sem terem cometido pecado algum.

6. Jó nos ensina que as pessoas podem sofrer horrores a despeito de sua piedade.

7. O que devemos fazer?

Jó 42:6: “Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza”.

8. O que Deus pode fazer?

Jó 42:1: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido (ou nenhum de teus planos pode ser frustrado)”.

Jó 42:4: “Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás”.

9. Onde podemos chegar?

Jó 42:5: “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora meus olhos te veem”.

10. Os amigos de Jó (Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú que foi diferente dos três primeiros) foram consolá-lo, mas criam que o seu amigo havia cometido pecado. Como é perigoso nos colocarmos como juiz dos outros e mais sábios do que eles!

11. Deus reprovou os amigos de Jó (Jó 42:7-9).

12. A importância da oração. Deus mudou o cativeiro de Jó quando este orava pelos seus amigos, e deu-lhe em dobro tudo o que antes possuía (Jó 42:10). Que reviravolta! O Senhor pode mudar aquilo que humanamente é impossível.  Louvado seja o Seu Nome!

13. O que Deus fala sobre Jó?

Jó 1:8: “Homem sincero, reto, temente a Deus e que se desvia do mal”.

14. Como seria bom caso seguíssemos o exemplo de Jó!

Pastor Washington Roberto Nascimento

 

                 Uma breve reflexão no Livro de Jó

              Pastor Washington Roberto Nascimento

O livro de Jó é a história de um homem que se tornou um exemplo de paciência piedosa durante o sofrimento. O livro de Jó ensina não apenas sobre o sofrimento, mas ensina sobre humildade, fé, perseverança, recompensa e alegria. Jó é citado em Ezequiel 14:14 e 20 como um exemplo de homem justo, e em Tiago 5:11 como um exemplo de perseverança e paciência.

Na verdade, este livro fala de um homem que tem muitas virtudes. Jó é apresentado como um homem exemplar; próspero; piedoso; provado e aprovado por Deus.

Neste livro há vários discursos ou falas. Os mais conhecidos são os discursos dos três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar. Um quarto personagem aparece para discursar. Ele é mais jovem que os outros. Seu nome é Eliú. Ele se encontra irado contra Jó e os seus três amigos. Além desses personagens, este livro traz a fala de Satanás, da mulher de Jó, de Jó, e finalmente daquele que tem a última palavra sobre todas as coisas: Deus.

Baseado em critérios linguísticos e alusões históricas, dificilmente existe um período da literatura bíblica para o qual o livro de Jó não tenha afinidades.

Por causa das alusões ao tempo do exílio e pós-exílio e ao uso da palavra hebraica traduzida por Satanás, que significa: "o Adversário" (Jó 1:9), de uma maneira muito semelhante àquela em que o termo é empregado no livro de Zacarias, profeta pós-exílio, capítulo 3:1-2; por causa da linguagem do livro de Jó ter influências do hebraico pós-babilônico e do aramaico; por causa do seu tema, que questiona a ideia de que todo sofrimento é causado pelo pecado, que era algo prevalecente no período pré-exílio (Gn. 3:1-19; Is. 1:1-9); e por causa da estrutura do livro ser interpretada como uma resposta à teologia da retribuição divina, que era proeminente antes e durante o exílio, o livro de Jó é aceito como uma obra composta em algum momento durante o período que vai do século VI ao século V a.C. Portanto, com base em tudo isso, o livro de Jó foi escrito no final do período babilônico ou no período persa, mesmo que tenha um pano de fundo, um contexto histórico de épocas passadas.

No entanto, por amor a verdade, precisamos dizer que o livro de Jó é grande, por isso podemos encontrar em seu texto algumas afinidades significativas entre o seu texto e a literatura bíblica anterior ao exílio, do período do século XV a.C. ao século VIII a.C.

O primeiro discurso de Elifaz é o epítome de que o escritor (ou escritores) do livro de Jó construiu seus argumentos por meio de diálogos intertextuais com vários outros textos na Bíblia hebraica. Veja, por exemplo o argumento em Jó 4–5, onde se pode encontrar três alusões (Jó 4:9; 4:19, e 5:6–7a) a Gênesis 2:4b–3:24 que não apenas fornecem a estrutura fundamental do argumento de Elifaz para a eficácia do nexo da ação-consequência, mas também são vitais para entender seu impacto. A colocação literária dessas alusões revela que elas são elaboradas para sustentar as questões retóricas e observações pessoais de Elifaz teologicamente. Isso reflete que durante o tempo da composição do livro de Jó (a era pós-exílica), Gênesis 2:4b–3:24 desempenhou um papel importante no debate sobre o nexo da ação-consequência. 

Assim sendo, podemos dizer que embora o escritor deste livro pertença ao período pós-exílio, o contexto histórico da narrativa é do período pré-exílio. O nome deste notável escritor é desconhecido.

Jó é o livro mais difícil da Bíblia para interpretar e há várias razões. Uma delas é a argumentação dos discursos. Todos muito elaborados. Outra razão é a linguagem altamente poética. Uma terceira razão é o vocabulário. Há palavras neste livro que não aparecem em nenhuma outra parte da Bíblia. E, como se tudo isso não bastasse, este livro trata sobre um dos mais enigmáticos e misteriosos temas da vida: o sofrimento humano.

Jó não aceitou seu sofrimento silenciosamente. Ele questionou Deus. Ele recusou os argumentos dos doutores, filósofos e até mesmo dos líderes da religião que pretendem ensinar que é possível uma vida livre de sofrimento.  Jó não se deixa enganar pelas mentiras do mundo e da religião e de seus falsos amigos. Como precisamos tomar cuidado com receitas prontas para uma vida de sucesso, de felicidade sem dor, sem renúncia, sem sofrimento.

O sofrimento de Jó nos ofende e confunde, pois Jó é apresentado como um homem que estava fazendo todas as coisas corretamente, e isso é dito pelo próprio Deus (Jó 1:8).

O Livro de Jó não tem como propósito explicar a razão do sofrimento humano, mas podemos aprender muitas coisas com Jó. A primeira é que o sofrimento faz parte de nossa vida. É impossível viver sem sofrer. A segunda lição que Jó nos ensina, é a importância de não sofrer como vítima. É preciso encarar o sofrimento. Podemos questioná-lo. Devemos enfrenta-lo com dignidade, semelhante a Jesus, o nosso Salvador e Mestre que foi homem de dores e que sabe o que é sofrimento (Is. 53:3). A terceira lição que Jó nos ensina é sofrer sem amaldiçoar a Deus, como sua esposa sugere (Jó 2:9).

Precisamos tomar muito cuidado quando encontrarmos alguém sofrendo por causa de uma enfermidade, ou por causa de um problema financeiro, desemprego, ou por causa de um problema familiar, uma separação, um problema com um filho ou filha etc. É claro que queremos aliviar ou prevenir o sofrimento, mas muitas vezes isso é impossível. Porém, seria ótimo caso não aumentássemos o sofrimento dos outros com discursos vazios e ações desastrosas, com ares de superioridade.

Para encerrar, gostaríamos de dizer que esse livro começou com a questão do valor moral da adoração, da obediência do homem a Deus e de sua vida íntegra e reta. Para Satanás, Deus comprava a fidelidade dos homens com prosperidade, saúde etc. Tal acusação lançava dúvidas sobre o caráter de Deus e de seus servos aqui na terra.

Jó continuou fiel a Deus a despeito de todas as suas perdas e todo o seu sofrimento. Jó aponta para além de si mesmo. Creio que Jó aponta para Jesus, o filho de Deus.

Jesus sofreu tanto que as pessoas pensavam que ele fosse culpado e estava sendo castigado por Deus. Ele foi torturado e ferido. As pessoas olhavam para ele como se fosse a escória do mundo. No auge de tanto sofrimento, Jesus orou dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, a minha vida, todo o meu sofrimento”.

Assim como Jesus fez, nós também precisamos fazer. Para tanto é necessário entregar com honestidade e fé toda a nossa dor, angustia e tristeza, toda a nossa vulnerabilidade nas mãos amorosas de nosso Pai Celestial. Um forte abraço.

Pastor Washington Roberto Nascimento