Esboço e Breve reflexão
Um Breve Estudo no Livro de Rute
Pastor Washington Roberto Nascimento
O Título
1. O título em Português é o mesmo em Hebraico, רוּת - (lê-se: rut) - língua original; Grego: Ρουθ - (lê-se: ruth); Latim Ruth.
Em todas as demais línguas que a Bíblia se encontra traduzida o título é o mesmo.
2. O título diz respeito ao principal personagem do livro: Rute (1:4).
Data
1. O livro foi escrito quando Davi já era rei de Israel, ou pelo menos já ungido por Samuel (Rute 4:22), ano 1000 a.C.
2. O acontecimento narrado no livro é do tempo dos juízes, cerca 1100 a.C (Rute 1:1).
Autoria
1. Não há nenhuma indicação clara e direta sobre a autoria deste livro nele ou em outra parte da Bíblia.
2. A tradição judaica (Talmude) diz que o seu autor foi Samuel.
Esboço
1. Rute decidindo (1).
2. Rute servindo (2).
3. Rute esperando (3).
¨ 4. Rute recompensada (4).
Jesus e o Livro de Rute
1. Este livro fala do goel גֹאֵל - (lê-se: goel) - o remidor - (Rute 2:20; 3:9; 4:14).
2. Boaz foi o goel - o remidor de Rute. Ele aponta para Jesus e Rute aponta para a Igreja. Deus é apresentado na Bíblia Hebraica (no Antigo Testamento) como o goel - o remidor - de Israel e todos os povos. Estude esse assunto com atenção.
3. Esta palavra: goel, aparece 22 vezes neste livro.
(Rute 2:20; 3:9; 3:12 (2x); 3:13 (4x); 4:1; 4:3; 4:4 (5x); 4:6 (5x); 4:8; 4:14)
4. Para ser goel - גֹאֵל - (lê-se: goel) - era necessário:
4.1. Ser parente (Deuteronômio 25:5; João 1:14; Romanos. 1:3).
4.2. Ter condições de pagar o preço (Rute 2:1; I Pedro 1:18,19).
4.3. Ter vontade de pagar o preço (Rute 3:11; Mateus 20:28; João 10:15,18).
Notas Gerais
1. Versículo chave: Rute 1:16.
“Disse porém Rute: Não me inste para que te deixe, e me obrigue a não seguir-te, porque onde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares à noite ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus”.
2. Significado dos nomes:
2.1. Belém –בֵּית לֶחֶם - (lê-se: bet lerrem) - Casa de Pão (Rute 1:1).
2.2. Elimeleque –אֱֽלִימֶלֶךְ- (lê-se: elimelerr) - Meu Deus é Rei (Rute 1:2).
2.3.Malom – מַחְלֹון - (lê-se: marlon) - Doente (Rute 1:2).
2.4. Quiliom –כִלְיֹון - (lê-se: rilion) - Fraqueza (Rute 1:2).
2.5. Orfa – עָרְפָּה- - (lê-se: hirpa) -Teimosia (Rute 1:4).
2.6. Rute – רוּת- (lê-se: rut) - Amizade (Rute 1:4).
2.7. Noemi – נָעֳמִי - (lê-se: noemi) - Prazer (Rute 1.3).
2.8. Mara – מָרָא- Amargura (Rute 1:20).
3. Por que este livro foi escrito?
3.1. Para falar, em linguagem poética, sobre a família do Rei Davi.
3.2. Para mostrar as bênçãos que recebe uma estrangeira, mulher, quando ela se apega ao Deus de Israel e assim passa a fazer parte do povo do Senhor.
3.3. Para combater a discriminação, o nacionalismo exacerbado.
4. De acordo com a lei uma moabita não poderia fazer parte do povo de Deus (Deuteronômio 23:3). Em Rute nós temos a revelação da graça do Senhor, ela faz parte da família de Jesus (Mateus 1:5).
5. Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Romanos 5:20).
5. A tipificação – os tipos.
5.1. Boaz tipifica Cristo.
5.2. Rute tipifica a Igreja.
5.3. Moabe tipifica o mundo.
5.4. Belém tipifica a comunhão com Deus.
6. Que a Igreja de Jesus Cristo seja a Belém para todos que têm fome de pão (João 6:48). “Eu sou o pão da vida”, disse Jesus.
Pastor Washington Roberto Nascimento
O Livro de Rute – Uma breve reflexão
Pastor Washington Roberto Nascimento
Em termos literários podemos dizer que o Livro de Rute é um dos mais lindos romances da Literatura Mundial! Trata-se de uma tocante história de amor, sem usar a palavra amor.
Na Bíblia há apenas dois livros com nomes de mulheres, um é Rute; o outro é Ester. O Livro de Rute conta a história de uma gentia que casou com um judeu. O Livro de Ester conta a história de uma judia que casou com um gentio.
O primeiro versículo do livro de Rute parece com as manchetes de uma notícia trágica e muito familiar em nossos dias – o problema da fome.
O governo desastroso e instável dos juízes levou à fome. Belém — a cidade do pão — torna-se a cidade da fome. Quanta ironia! Que paradoxo!
O problema da fome tem a ver com o problema da pobreza, que tem como causa a injustiça social, desigualdade social extrema, guerras, crises econômicas e governos corruptos, ineficientes na administração dos recursos financeiros dos impostos e taxas, dos recursos humanos e dos recursos naturais.
A falta de segurança alimentar – fome – provocou a migração forçada de toda a família de Noemi, a sogra de Rute.
O livro de Rute é sobre esses temas presentes no mundo ainda hoje: a pobreza, os famintos, a mulher, a pessoa idosa, a viúva, o estrangeiro, etc. Todos esses assuntos são delicados e desafiadores.
A migração forçada é uma jornada de tristeza caracterizada por enormes desafios. Há o problema da língua, da cultura como um todo, da falta de moradia (os sem tetos), vulnerabilidade de toda sorte, riscos à saúde, enfermidade e morte.
O livro de Rute fala de todos esses problemas mencionados acima que aviltam a vida humana. Esse assunto não se encontra apenas no livro de Rute e não ficou no passado distante. Esse é um tema presente ao longo da Bíblia e porque não dizer da história da humanidade. O primeiro livro da Bíblia, Gênesis, fala sobre fome, migração e os seus riscos.
É importante deixar claro que a fome e a falta de lugar para morar não são problemas que apenas atingem os estrangeiros em nossa terra ou países distantes. Esses problemas estão presente em nossas famílias, igreja, escola, bairro, cidade, estado e nação, entre familiares e amigos. Eles têm a ver com a falta de justiça eficaz, políticas públicas de educação, saúde, segurança e moradia. Revela uma nação sem Deus, um mundo sem Deus e, consequentemente, sem justiça e sem solidariedade.
A inclusão de Rute na história de Israel é algo singular que tem muito a nos ensinar ainda hoje sobre esse tema: inclusão.
A inclusão de Rute se revelou como a solução de uma triste situação envolvendo fome, migração, doença e morte. Ela reconstruiu uma família que estava destruída e não apenas isso. Ela foi importante na construção de uma sociedade, um país, um governo bom.
O heroísmo altruísta de Rute traz salvação não apenas para ela, sua sogra Noemi e sua família, mas também para o povo judeu como um todo. Ao deixar tudo o que sabe para trás e iniciar corajosamente uma nova família, Rute transforma a catástrofe em um futuro vibrante. Ao dar à luz Obede (Rute 4:17), o avô de Davi, Rute abre caminho para a dinastia davídica — um governo de “justiça e retidão” (II Samuel 8:15), que não apenas representa o reino dos céus, mas também traz consigo a capacidade de cada indivíduo habitar “seguro, cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira” (I Reis 4:25). Nas mãos de Rute, a fome foi abolida e segurança, sustentabilidade e justiça foram estabelecidas.
Rute enfrentou o desconhecido e forjou uma nova nação com coragem, fé, esperança e amor. Deus a abençoou com a fertilidade - por meio dela nasceu o rei Davi, de onde temos Jesus - para garantir o futuro da nação, abençoar Israel e todos os povos da terra.
Rute desceu à eira e desafiou Boaz a romper com as normas aceitas para se casar com uma moabita e se tornar seu parceiro na construção da nação. Ao trabalhar e desafiar as normas de sua sociedade, ela propõe a inclusão como um modelo para o avanço comunitário. Que coragem! Que exemplo!
Rute transformou a exclusão e opressão em inclusão e oportunidade. Ela foi um agente, nas mãos de Deus, de mudança positiva da família, da comunidade, da nação, do mundo. Tudo isso a partir da sua família.
Empoderar pessoas que estão excluídas como Rute estava, e promover a inclusão de mulheres e homens nessa situação, não apenas liberta tais pessoas de alienação e opressão, mas também permite que contribuam para a transformação positiva da sociedade em um ambiente mais humano, mais solidário.
Ao longo da história temos visto que a inclusão de mulheres em todos os níveis da sociedade reduz conflitos e fortalece governos estáveis. A Bíblia nos ensina como alcançar com a graça de Deus os que estão marginalizados de acordo com a história de Rute.
Em Cristo Jesus encontramos, de maneira extraordinária, a graça de Deus revelava alcançando a todos os marginalizados em termos sociais, culturais e religiosos.
O livro de Rute fala do importante papel das mulheres na tomada de decisões como um dos fatores mais importante para melhorar a situação da família. Podemos, por extensão, dizer a mesma coisa sobre a igreja, a escola, o ambiente de trabalho, a nação e o mundo como um todo. O importante papel da mulher não deve ser ignorado, sob pena de perdas enormes.
Rute nos ensina algo revolucionário. A salvação de nosso lar ou de nossa Igreja, escola, sociedade, não tem que ser apenas com homens, reis, líderes masculinos fortes ou mesmo patriarcas.
Rute não é uma pessoa egoísta. Ela é cheia de bondade; é altruísta; tem o amor conhecido no Antigo Testamento como - חֵסֵד - (lê-se ressed), e no Novo Testamento - ἔλεος - (lê-se: éleos) – o amor/misericórdia/graça de Deus revelado em Cristo Jesus, o amor sacrificial.
Rute e Abraão têm muito em comum. Ambos são retratados como migrantes corajosos que deixam a terra de seus pais para embarcar em viagens desconhecidas, movidos pela fé, esperança e amor.
O Livro de Rute tem apenas quatro capítulos. No primeiro capítulo, Rute está decidindo a sua vida. No segundo capítulo, Rute está servindo. No terceiro capitulo, Rute está esperando. No último capítulo, Rute está recompensada.
Rute aparece na genealogia do Rei Davi e na genealogia de Jesus Cristo, o Filho de Deus (Mateus 1). Esta mulher gentia, pobre e sofrida foi alcançada pela graça de Deus. Ela faz lembrar a história de milhares de crentes. Ela confirma a verdade bíblica da história da redenção: onde aumentou o pecado, transbordou a graça (Romanos 5:20). Que Deus abençoe a sua vida como abençoou a vida de Rute. Um forte abraço.
Pastor Washington Roberto Nascimento