Esboço e Breve Reflexão
Um Breve Estudo no Primeiro Livro das Crônicas
Pastor Washington Roberto Nascimento
O Título
1. A palavra crônica em Português significa: Narração histórica ou registro de fatos comuns. Eis o significado do título de nosso livro bíblico na língua portuguesa.
2. No Hebraico, língua original em que este livro foi escrito, o seu título é:
דברי הימים - (divrei raiamim) -
Em Hebraico o significado literal é: Palavras dos Dias.
3. Na LXX, Bíblia Grega, traduzida do Hebraico para o Grego, por volta do ano 300 a.C. na cidade de Alexandria, Egito, por cerca de 70 judeus eruditos em Hebraico e Grego, o título é: Παραλειπομένων (lê-se: paraleipoménon) - que para alguns significa: Coisas colocadas (ou recebidas) do lado.
Na Bíblia em Latim, conhecida como Vulgata de Jerônimo, o título é: Verba Dierum – Paralipomenon, que em Português significa: Estes dias – Crônicas.
Data
1. Levando em consideração que este livro menciona Zorobabel (I Cr. 3:19), e que este foi contemporâneo de Esdras e seu colaborador na reedificação da Casa do Senhor (Ed. 4:1-2), chegamos à conclusão de que este livro foi escrito por volta do século V a.C. Essa foi a época da reconstrução do templo.
Autoria
1. Os comentaristas são unânimes em afirmar que Esdras foi o autor deste livro, bem como do segundo livro das Crônicas (II Cr. 36:22-23; Ed. 1:1-3).
Jesus e os Livros das Crônicas
1. Este livro mostra como Deus preservou o seu povo, O Reino do Sul, ou seja, as tribos de Judá e Benjamim, a despeito de suas falhas.
2. À luz do castigo aplicado podemos pensar que Deus rejeitou o seu povo, mas enganamo-nos (Rm. 11:1-2). O mesmo acontece conosco ainda hoje. Podemos sofrer por causa dos nossos pecados, mas isso não significa que Deus nos tenha rejeitado. Pela graça somos salvos por meio da fé.
3. Se formos infiéis, ele permanece fiel: não pode negar-se a si mesmo (II Tm. 2:13).
4. O pacto com Davi haveria de se cumprir na pessoa de Jesus, o filho de Davi, o filho de Abraão, o Filho de Deus (I Cr. 17:11-15; Mt. 1:1; 9:27; 12:22-23; Lc. 3:23-38; etc.). Eis alguns ensinos que podemos destacar baseados em I Crônicas 17:11-15.
4.1. “Confirmarei o seu reino” (I Cr. 17:11).
4.2. “Este me edificará casa” (I Cr. 17:12).
4.3. “Ele será meu filho” (I Cr. 17:13).
4.4. “Eu o amarei para sempre” (I Cr. 17:13).
4.5. “O Seu trono será firme para sempre” (I Cr. 17:14).
Notas gerais
1. O texto chave deste livro é I Crônicas 17:11-14.
“Quando a sua vida chegar ao fim e você se juntar aos seus antepassados, escolherei um dos seus filhos para sucedê-lo, e eu estabelecerei o reino dele”.
“Será ele quem construirá um templo para mim, e eu firmarei o trono dele para sempre”.
“Eu serei seu pai, e ele será meu filho. Nunca retirarei dele o meu amor, como retirei de Saul”.
“Eu o farei líder do meu povo e do meu reino para sempre; seu reinado será estabelecido para sempre”.
2. O personagem chave deste livro é Davi.
3. As genealogias neste livro ensinam muitas coisas:
3.1. O cuidado de Deus em preservar os seus para a realização de Seus propósitos.
3.2. Deus tem registrado o nome de seus filhos.
4. Precisamos tomar cuidado com discussões inúteis acerca de genealogias e da lei (Tt. 3:9).
5. O mesmo evento - o censo de Israel feito por Davi - com duas interpretações (II Sm. 24:1; I Cr. 21:1).
De acordo com o escritor de II Samuel 24:1, foi o Senhor quem incitou a Davi fazer o censo.
De acordo com o escritor de I Crônicas 21:1, foi Satanás que incitou a Davi a fazer o censo.
A Bíblia nos ensina que escritores bíblicos tiveram opiniões diferentes sobre um mesmo assunto. Creio que tenhamos aqui, bem como em outros textos bíblicos, o ensino sobre a importância de humildade e tolerância no meio de interpretaççoes diferentes.
Ofendemos e brigamos com irmãos em Cristo que têm opiniões diferentes das nossas, sob o pretexto de que temos a palavra final sobre a interpretação bíblica. Receio que haja falta de humildade e tolerância em nós.
A revelação é progressiva. Em Jesus temos uma revelação maior e melhor que aquela que encontramos no Antigo Testamento (Hb. 1:1-4).
No Antigo Testamento, em termos gerais, havia um entendimento de que tanto o bem quanto o mal vinham de Deus. Os discípulos de Jesus revelaram esse entendimento quando perguntaram a Jesus sobre um homem cego de nascença: "Mestre, quem pegou, esse homem (no ventre de sua mãe), ou seus pais, para que ele nascesse cego?" (Jo. 9:1-3).
6. Para muitos a ideia de Satanás só foi desenvolvida no exílio.
Satanás (- שָׂטָן – lê-se: Satan) – Aparece 27 vezes na Bíblia Hebraica. Essa palavra foi traduzida para o Grego na LXX como: Σατᾶν – Satan – de onde temos - Σατανᾶς – (lê-se: Satanás) - no texto Grego do Novo Testamento, onde ela aparece 36 vezes.
6.1. Satanás significa adversário, oponente.
6.2. Ele é adversário de Deus.
6.3. Ele é adversário do povo de Deus.
6.4. Ele usa a Palavra de Deus para enganar e confundir (Mt. 4:1-11).
6.5. Ele ataca (I Pe. 5:8).
6.6. Ele tem armadilhas (Ef. 6:11).
6.7. Ele se disfarça até em anjo de luz (II Co. 11:14).
7. I Crônicas 21:1.
“Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel”.
8. Cuidado, então crente em Jesus, com o inimigo de Deus. O inimigo de Deus é, também, o nosso inimigo. Veja os conselhos de Deus (Ef. 6:10-18; I Pe. 5:7-8).
9. Jabez foi um exemplo de quem fez uma oração de fé, ousada e aprovada por Deus.
Precisamos aprender a orar como Jabez
Uma oração aprovada por Deus – I Crônicas 4:10.
“Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: Oh! Tomara que me abençoes e me alargues as fronteiras, que seja comigo a tua mão e me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha aflição! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido”.
9.1. Jabez invocou o Deus de Israel.
9.2. Tomara que me abençoes.
9.3. Que me alargues as fronteiras.
9.4. Que seja comigo a tua mão.
9.5. Que me preserves do mal.
9.6. Que não me sobrevenha aflição.
9.7. E Deus lhe concedeu o que tinha pedido.
10. Enquanto os Livros dos Reis contam a história do ponto de vista do trono, Crônicas a conta do ponto de vista do altar, do culto. Como a adoração a Deus é importante na identidade de Seu povo!
11. Enquanto os Livros dos Reis tratam dos dois Reinos: Do Norte e Do Sul; de Israel e de Judá, os Livros das Crônicas tratam apenas do Reino de Judá, do Reino do Sul.
12. Os Livros das Crônicas começam com Adão, o primeiro homem, criado por Deus. Estes livros prosseguem na narrativa bíblica chegando até o período da Restauração, com o Imperador Medo Persa, Ciro, o Grande (II Cr. 36:22-23). Assim sendo, estes livros nos ensinam que há várias maneiras de contar a mesma história. Aqui, a história dos reis de Israel é contada de uma maneira diferente daquela que temos em I e II Samuel e em I e II Reis. Algo semelhante nós encontramos no Novo Testamento: Há quatro Evangelhos (livros), cada um com uma abordagem diferente (própria) da pessoa de Jesus Cristo.
13. As listas genealógicas no início de I Crônicas encontram-se relacionadas com a identidade do povo de Deus. Deus se relaciona com pessoas. As pessoas são importantes para Deus e para a História da Salvação. O nosso Deus é pessoal e seu povo não esmaga a identidade de cada pessoa que o compõe.
Pastor Washington Roberto Nascimento.
Uma breve reflexão no Primeiro Livro das Crônicas
Pastor Washington Roberto Nascimento.
Há vários estudiosos do Antigo Testamento que dizem que o autor deste livro é anônimo. A tradição judaica ensina que Esdras é o autor dos livros: I e II Crônicas, que formavam uma só obra, assim como os livros de I e II Samuel e I e II Reis.
O autor desta obra fez uso de inúmeros materiais tais como: anais, livros e registros, que são citados como documentação histórica confiável. Este autor, Esdras, é tão meticuloso quanto Lucas no Novo Testamento (Lc. 1:1-4).
O Primeiro Livro das Crônicas abarca um tempo que vai desde o livro de Segundo Samuel até o livro de Primeiro Reis. O escritor de Primeiro Crônicas fez uma seleção de conteúdo. Ele está interessado no Reino de Davi, no Reinado de Judá, do Sul e apenas em coisas que servem ao seu propósito. Há coisas que estão registradas em Samuel e em Reis, mas que não se encontram mencionadas nos livros das Crônicas, como, por exemplo, o adultério de Davi com Bate-Seba (II Sm. 11).
De acordo com a tradição judaica, esta obra foi escrita por volta do final do século VI e início do século V a.C.
No Primeiro livro das Crônicas encontramos um enorme material sobre genealogias, cerca de um terço do livro. Isso é muita coisa. Essas genealogias serviam para demonstrar a legitimidade da reivindicação de uma pessoa ou família a uma função ou posição específica. Além disso, as genealogias serviam para preservar a pureza do povo eleito, a linhagem de sacerdotes, levitas.
O Primeiro Livro das Crônicas tem lista de sacerdotes, levitas, exércitos, oficiais do templo e outros líderes de vários ministérios. Esse cuidadoso registro é algo notável. Neste livro, aprendemos que ele foi escrito através de uma perspectiva sacerdotal. O cronista dedicou atenção significativa ao culto, a adoração a IAVÉ – o SENHOR - e ao cumprimento dos regulamentos de Sua lei. O autor incluiu as decisões de Davi sobre a maneira adequada de se comportar na hora de transportar a arca da aliança (I Cr. 13: 15-16) e descrições detalhadas de seu retorno a Jerusalém. O cronista até mesmo destacou um dos salmos de Davi (I Cr.16:8-36). Lemos a história de como Davi comprou a eira de Ornã (- אָרְנָן – lê-se: Ornã -), o Jebuseu (- הַיְבוּסִי – lê-se: rayvussy – I Cr. 21:15), que ele designou como o futuro local do templo (I Cr. 21:15-30). Embora Davi desejasse construir o templo, Deus revelou a ele que Salomão, filho de Davi, teria essa honra (I Cr. 17:1-14).
Por que precisamos dos livros de I e II Crônicas quando já temos a história de I e II Samuel e I e II Reis? Assim como os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João oferecem perspectivas diferentes sobre a vida de Jesus, os livros das Crônicas apresentam a história de Israel com um propósito diferente dos outros livros históricos. Os livros de I e II Samuel, e I e II Reis revelam as monarquias de Israel, Reino Unido e Reinos divididos, com uma visão profética e com uma abrangência não apenas diferente, porém maior do que o que encontramos no registro sacerdotal dos livros I e II Crônicas.
Os livros das Crônicas, escritos após o tempo do exílio, enfocam aqueles elementos da história sobre os quais Deus queria que os judeus meditassem: obediência que resulta na bênção de Deus, a prioridade do templo e do sacerdócio e as promessas relacionadas a casa de Davi.
A oração de Davi em I Crônicas 29:10-19 resume os temas que o cronista desejava comunicar: glória de Deus; gratidão a Deus por dar à família de Davi a liderança da nação; e o desejo de que os descendentes de Davi continuem a se dedicar a Deus, isto é, que permaneçam fiéis a Deus para receber as Suas bênçãos.
Os livros das Crônicas foram escritos quando os descendentes de Davi não governavam mais como reis sobre Israel. Mas o cronista desejava que o povo se lembrasse da linhagem de Davi, pois Deus havia prometido que um futuro governante surgiria dessa linhagem. Após o exílio de setenta anos na Babilônia, o poder político-social judaico residia mais com os governantes religiosos do que com os políticos. Contar a história de Israel através de lentes sacerdotais e da realeza possivelmente revele uma esperança messiânica por parte do escritor bíblico. Nesse caso, podemos dizer que ele tinha como objetivo preparar o povo para um futuro Messias da descendência de Davi.
O Primeiro Livro das Crônicas termina com uma linda oração de louvor ao nosso Deus, o Senhor. Trata-se da Oração de Davi, o servo de Deus. Ele diz que o Senhor é bendito de eternidade em eternidade, a Ele, o Senhor, pertence o Poder, a grandeza, a honra, a vitória, a majestade e tudo quanto há nos céus e na terra. Riqueza e glória vêm do Senhor, e domínio sobre tudo (I Cr. 29:10-13). De um lado ele, Davi, exalta a Deus; e, do outro lado, Davi revela a sua humildade. Ele, Davi, pergunta: Quem sou eu? Quem é o meu povo? (I Cr. 29:14-15). A resposta é óbvia: Somos nada.
Que exemplo de humildade! Deus se agrada dos humildes, mas rejeita os soberbos (Tg. 4:6; Pv. 16:18-19).
Pastor Washington Roberto Nascimento