Trauma
O trauma é uma ferida, uma lesão, ou uma desagradável experiência emocional de tal intensidade, que deixa uma marca duradoura na mente do indivíduo. É uma experiência psicológica muito violenta que pode gerar sérios distúrbios, de toda sorte e ordem.
Hoje podemos ver uma sociedade marcada pelos mais diferentes traumas. Há o trauma antropológico produto dos saltos dados pelo homem desde a pré-história, desde a pré-escrita, desde o tempo da caverna até os dias de hoje. Aquele animal, aquele Neandertal, ainda existe dentro de nós. De vez em quando ele se manifesta uivando, agredindo, matando, protestando contra tudo e todos. É um sinal do trauma que temos vivido e não resolvido.
Há o trauma do Estado. Sua organização como sociedade começou de forma simples e sem muitas pretensões. O Estado tem se tornado cada vez mais eficiente no controle dos cidadãos, na fiscalização, na cobrança, na punição. O retorno em termos de serviço em educação e saúde tem sido cada vez pior. O Estado se transformou no grande Leviatã, no Dinossauro Rex. O Estado é corrupto e criminoso. Eis o que criamos: um monstro. Não há perspectiva para a sua destruição ou conversão. Eis o trauma que temos vivido.
Há o trauma religioso. Talvez o pior de todos. Houve um tempo em que o mundo era todo interpretado religiosamente. Tudo era obra do eterno. O relâmpago, a chuva, a seca, todos os fenômenos naturais. Tudo que acontecia com o homem, sua morte ou vida; sua enfermidade ou saúde. Tudo era interpretado à luz do Eterno. Nem tudo é obra do Eterno. Pouca coisa diz respeito a Ele. Na verdade, para muitos, Ele morreu. A leitura religiosa da vida acabou.
Havia uma linha entre o profano e o sagrado. Esta linha desapareceu. Ela não existe mais. O profano virou sagrado. Tudo é belo.
Houve um tempo em que a bateria era proibida no culto. O violão não podia ser tocado. A calça comprida era só para homem. O divorciado não era bem vindo. O jogador de futebol não podia ser membro de igreja. Isto também acabou.
Os valores culturais determinam os valores espirituais. Eis o trauma.
A ética religiosa é o amor. O amor implica no cuidado e no respeito. Precisamos cuidar de todos e do meio ambiente também. Cuidar com respeito. Precisamos aceitar as pessoas como elas são. A religião com todos os seus ritos e cerimoniais ficou reduzida à ética do amor. O resto é fanatismo, acessório.
As mudanças são tantas e tão rápidas e tão profundas. Elas são o próprio trauma. A cada instante experimentamos um trauma, uma lesão. Somos seres feridos, traumatizados. Nem todos têm consciência de tais traumas. Mas a não consciência não diminui em nada os seus efeitos.
A leitura de tudo muda a cada instante. Trata-se na verdade de uma re-leitura de Deus, de sua Palavra, do homem, dos meios de comunicação, dos meios de transportes e da sociedade como um todo. O ontem está cada vez mais distante do hoje.
Jesus também introduziu uma re-leitura de Deus, de sua Lei, de sua revelação e do homem. Eis aí o trauma. Ao dizer: “Ouvistes o que foi dito, eu, porém, vos digo...” Ele introduziu o novo. Ele promoveu o choque. Eu faço um novo testamento, disse ele, em meu sangue.
O Novo Testamento apresenta, de certa forma, o trauma. Podemos vê-lo na pessoa de Jesus ou na história da Igreja. A Igreja dos Evangelhos é diferente da Igreja de Atos dos Apóstolos. A Igreja de Atos dos Apóstolos é diferente da Igreja das Epístolas. A estrutura é diferente, a organização não é a mesma.
A vida pulsa. Ela é tão dinâmica. Gostaríamos que ela fosse estática. Mas ela não é. Ela também não é cíclica. Ela é linear. Ela é ascendente, esperamos.
O Espírito do Senhor gera ordem a partir do caos. Das trevas, nasce a luz. Da morte, surge a vida. Da fratura, a cura. Um novo céu e uma nova terra, o que parecia ser um novo trauma, descobrimos ser o seu fim.
Pastor Washington Roberto Nascimento