Aconselhamento pastoral e psicoterapia pastoral
Pastor Washington Roberto Nascimento
Enganam-se aqueles que pensam que a definição dos termos lança plena luz para a compreensão total e elimina qualquer dúvida ou incerteza sobre o significado e/ou sentido das coisas, das palavras, dos termos.
Na verdade, as definições dos termos/palavras variam de acordo com os contextos e tradições históricas e culturais, variam de acordo com o tempo e o lugar.
Isso não significa dizer que as definições dos termos ou palavras não sejam necessárias.
Na verdade, a definição dos termos é importantíssima. Sem definições começamos a perder a clareza de quem somos, o que falamos, escrevemos, fazemos e para onde vamos.
Há uma plasticidade nos termos/palavras que é inegável. O significado das coisas que fazemos, das palavras e dos termos que usamos têm a capacidade de se adaptar, alterar, moldar de acordo com as circunstâncias, o tempo, o local e a cultura. Porém, esse fato não nos dissuade, mas nos encoraja e desafia a buscar com dedicação e cuidado a definição dos termos: aconselhamento pastoral e psicoterapia pastoral.
Parece-me que uma abordagem sábia leva em conta, ainda que brevemente, a história e as tradições nas quais estes termos/palavras/conceitos se baseiam. Mais especificamente, localizo e descrevo estes conceitos dentro das tradições judaico-cristãs e descrevo como cada conceito assumiu significados particulares dadas as mudanças sociais e científicas nas sociedades ocidentais durante os séculos XIX e XX. Meu objetivo geral é fornecer alguns dos principais contornos que ajudam a diferenciar o aconselhamento pastoral e a psicoterapia pastoral.
O termo “aconselhamento pastoral” não é encontrado nas escrituras judaico-cristãs, mas existem muitos exemplos de diversas formas de aconselhamento. Deus, às vezes diretamente e outras vezes através de intermediários, aconselhou e advertiu Moisés (Êx. 3:1-4:17) e Davi (II Sm. 12:1-15). Os profetas, como Isaías (1:18-20, Ezequiel (Ez. 2:1-3:27; 37:1-14) e Jonas (Jn. 1:1-4:11), entre outros receberam o aconselhamento do Senhor.
Jesus, o sábio conselheiro e mestre, deu conselhos aos seus discípulos (Mt 5:1-7:29); e a outras pessoas também (Mc.10:17-31). Ele aconselhou Marta, irmã de Lázaro e Maria (Jo. 11:17-27). Ele teve uma conversa muito interessante com Pedro (Jo. 21:15-19). Foi um aconselhamento curativo.
As Cartas de Paulo a Timóteo, aTito e a Filemom foram cartas de aconselhamento pastoral. A mesma coisa poderíamos dizer das cartas de Thiago, Pedro, João, Judas e a Carta aos Hebreus também.
Há cartas no Novo Testamento que são de aconselhamento pastoral para pessoas individualmente e para um grupo de pessoas, para igrejas como um todo.
O aconselhamento pastoral era parte integrante da vida da Igreja Primitiva e era realizado naturalmente pelos seus líderes.
Enquanto os pastores das Igrejas de Cristo aconselham com base nos ensinos da Palavra de Deus, os psicólogos, psiquiatras, filósofos e médicos em geral aconselham, mas sob o guarda-chuva da ciência.
William James, Morton Prince, James Jackson Putnam, Pierre Janet, Jean-Martin Charcot, Sigmund Freud, Alfred Adler, Carl Jung, Michel Foucault, Jean Paul Satre e muitos outros desenvolveram teorias e métodos sob a égide da ciência (e não da teologia/Bíblia); de onde tinham seus diagnósticos e tratamentos visando a cura de doenças psicológicas/sociais e/ou existenciais.
As pessoas têm assistido desde o século XIX à ascensão e o domínio cultural das ciências humanas para compreender e responder ao sofrimento humano. Isso influenciou de maneira notável inúmeros pastores que se apaixonaram pela teoria psicanalítica de Freud e Jung; e pelas propostas de leitura do ser humano de acordo com Sartre e Foucault, entre outros.
Muitos acreditam profundamente que a teoria psicanalítica e filosóficas podem ser usadas pelos líderes das igrejas para aconselhar.
É claro que não negamos o valor da Psicologia e da Filosofia para o estudo e a compreensão do ser humanos em suas múltiplas dimensões: física, emocional, mental, espiritual.
Contudo, não podemos olvidar o fato de que os ensinos da Palavra de Deus são terapêuticos.
É claro que há muitos líderes de igreja buscando a união entre a teologia (a Palavra de Deus) e a psicologia (e/ou filosofia) para realizar o aconselhamento das pessoas. Alguns têm tido êxito outros nem tanto.
Há muitos que pensam, enganosamente, que só podem realizar o aconselhamento pastoral com diploma de psicologia ou psiquiatria ou algum outro, mas não apenas com o diploma de teologia.
Pensar que o aconselhamento pastoral com base nos ensinos da Palavra de Deus não pode acontecer, ou caso aconteça não pode ter êxito, isso é um engano.
O aconselhamento pastoral está fundado, principalmente, na Palavra de Deus, bem como a teologia. Mas isso não significa proibição (ou desprezo) do uso da psicologia, filosofia, sociologia etc.
O aconselhamento pastoral se encontra intimamente relacionado com o ministério pastoral que tem suas raízes na Bíblia e na Igreja de Cristo.
O aconselhamento pastoral é algo intrínseco ao ministério pastoral. Não existe ministério pastoral sem aconselhamento pastoral. Uma das funções básicas do pastor, do ministro do Evangelho de Deus - revelado em Cristo Jesus de maneira extraordinária - é o aconselhamento.
Há um risco do pastor, como conselheiro de almas, esquecer que a Palavra de Deus tem as respostas para às diversas formas de sofrimento que o ser humano enfrenta; e por causa disso, se tornar prisioneiro das teorias de psicologia, filosofia e sociologia, e dependentes cegos dessas escolas e seus métodos como a panaceia para todos os males que afligem a alma humana.
O aconselhamento pastoral busca compreender os problemas humanos a partir de perspectivas teológicas; já a psicoterapia busca compreender os mesmos problemas a partir de perspectivas psicológicas. Ambos, em princípio, com o mesmo propósito: ajudar, curar, transformar, libertar, consolar.