O que o Judaísmo pode Ensinar aos Cristãos sobre A Arte de Criar Filhos

Data publicação 11/09/2020

Uma Breve Reflexão sobre O que o Judaísmo pode Ensinar aos Cristãos sobre A Arte de Criar Filhos - Algumas lições

Pastor Washington Roberto Nascimento

O judaísmo tem como algumas de suas principais características: a circuncisão, a guarda do sábado, uma dieta especial, própria, e a fé em um único Deus que se revelou através dos escritores do Antigo Testamento, isto é, da תַּנַךְ (Thanarr), sua maior fonte de autoridade religiosa.

Nosso estudo é sobre algumas lições sobre a criação, educação de filhos à luz do judaísmo.

Bem, criar filhos é uma das tarefas mais desafiadoras, emocionantes, frustrantes e realizadoras em qualquer cultura.

A boa notícia é que criar filhos é uma arte que podemos aprender. E a Bíblia tem muito a nos ensinar.

Hoje vamos destacar alguns textos do Antigo Testamento, da תַּנַךְ (Thanarr), que tratam desse assunto: a criação dos filhos, e que encerram muitas lições para todos nós.

O Antigo Testamento tem a ver com o Judaísmo e o Cristianismo. É claro que o Cristianismo tem a ver principalmente com o Novo Testamento, mas o Novo Testamento tem suas raízes no Antigo Testamento. A Bíblia da Igreja Primitiva, a Bíblia de Jesus, era o Antigo Testamento que é fonte do Judaísmo. Ao apresentarmos lições sobre criação de filhos com base no Antigo Testamento – na תַּנַךְ - estamos apresentando as lições sobre criação de filhos à luz do Judaísmo.

O Antigo Testamento é chamado de   תַּנַךְ (Thanarr) pelos judeus. A תַּנַךְ (Thanarr)  tem os mesmos trinta e nove livros do Antigo Testamento de nossa Bíblia.

A  תַּנַךְ (Thanarr) tem três letras, cada letra representa uma divisão ת – tav - תּוֹרָה Torah = Lei, ensino; נ – num - נְבִיאִים - Neviim -  = Profetas; כ – kaf - כְּתוּבִים Quetuvim -  Escritos.

Portanto, com base em alguns textos do Antigo Testamento - תַּנַךְ - vamos apresentar algumas lições sobre a arte de criar filhos.

Primeira lição – Gênesis 37:3. Evite favoritismo na criação de seus filhos.

Em Gênesis 37:3 a Bíblia nos diz que Jacó amava mais ao seu filho José do que a todos os outros. Este favoritismo, esta preferência de Jacó por José, lhe trouxe enormes dificuldades, pois prejudicou grandemente a relação entre os seus filhos, os irmãos.

Creio que, infelizmente, esse problema, o favoritismo dos pais, ou de um dos pais, por um/a filho/a, existe em muitas famílias ainda hoje. Há pais e mães que revelam maior atenção e carinho para com um filho ou filha do que para qualquer um outro. Que pena quando isso acontece! Caso você esteja fazendo isso, é hora de se corrigir. O primeiro passo na correção é do reconhecimento. Caso a pessoa não reconheça que esteja cometendo esse erro, então, é praticamente impossível corrigi-lo/a.

Segunda lição – Salmos 127:4-5. Não crie seus filhos pensando no retorno que eles vão lhe dar amanhã. Filhos não devem ser considerados negócios comerciais, financeiros.

No Salmo 127:4-5, o escritor diz que feliz é o homem que tem seus filhos na juventude, pois tais filhos são como flechas nas mãos do guerreiro. Este homem não será envergonhado quando enfrentar seus inimigos.

Ora, esse texto está falando de filhos de pais jovens e vigorosos. Fala do pai, com sua numerosa família ao seu redor, como o guerreiro vigoroso com a aljava cheia de flechas.

Este texto do Salmo 127 nos faz lembrar Jacó, o patriarca, ao falar de Rubem, o seu primogênito: Rubem é a minha força, primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez, o mais excelente em poder (Gn. 49: 3). Jacó teve Rubem quando ainda era jovem. O que o salmista diz encontra-se em harmonia Gênesis 49:3. Os filhos da juventude são mais vigorosos e crescem a tempo de serem a defesa e socorro dos pais na velhice.  Mas, esta filosofia de relação dos pais com os filhos é compreensível para aquela sociedade de mais de 25 séculos atrás. Hoje, esta ideia de criar filhos pensando naquilo que podemos obter deles quando eles crescerem e nós envelhecermos, não se sustenta.

Há pais que querem que seus filhos herdem seus negócios, defendam seu património, sigam sua carreira profissional. Isso é o equivalente ao ensino do Salmo 127:4-5.

A criança, um filho/a, não é um negócio financeiro. A motivação de ter um filho e investir nele porque você espera um retorno da parte dele quando ele crescer, não é correta. Quando temos filho, quando o criamos, o educamos, o foco precisa ser o filho/a, as necessidades da criança, e não do pai ou da mãe. Esta seria uma atitude egoísta, centrada nas necessidades dos pais.

Há coisas que eram feitas e louvadas no Antigo Testamento que precisam ser revistas à luz do Novo Testamento, à luz dos ensinos e pessoa de Jesus, à luz da orientação do Espírito Santo.

A exegese e a hermenêutica do texto Bíblico do Antigo Testamento precisam levar em consideração o tempo, a cultura daquele tempo. Não devemos transportar cegamente determinados ensinos de lá e implantá-los aqui e agora desprezando a luz do ensino do Novo Testamento e do Espírito Santo de Deus.

Assim como não faz sentido apedrejar as pessoas que cometem um certo erro, circuncidar um homem que deseja fazer da família de Deus, etc, não se aplica mais querer ter vários filhos para que eles possam nos proteger amanhã, ou trabalhar em nossa fazenda, empresa. Isso não é uma boa motivação para se ter filhos.

A sabedoria judaica, veterotestamentária, sustenta que nossos filhos não nos pertencem, eles são uma herança do Senhor, Eles são um empréstimo e um presente de Deus (Sl. 127:3). Nosso trabalho é criar nossos filhos para nos deixar. O trabalho das crianças é encontrar seu próprio caminho na vida. Terceira lição – Eclesiastes 5:5. Não prometa aquilo que você não tenha certeza de poder cumprir.

O texto de Eclesiastes 5:5 nos ensina uma preciosa lição que pode ser aplicada na criação dos filhos/as. Mesmo que o texto Bíblico tenha sido escrito pensando na relação entre o homem e Deus, creio que o princípio pode ser aplicado em nossa relação com os nossos filhos.

Os pais não devem prometer coisa alguma a seus filhos, caso não tenham certeza de poder cumprir a promessa.

Quando um pai não cumpre sua promessa ao filho, ele está ensinando o filho a não confiar nele.

Quando um pai não cumpre sua promessa ao filho, ele está causando uma dor em seu filho que é o desapontamento. Não há remédio na farmácia para isso.

Ao prometer algo ao seu filho, você garante que ele é muito importante. Mas, ao mesmo tempo, se você não cumprir sua palavra, ele se sentirá negligenciado, desvalorizado e sem importância. Ele pensou que fosse importante na hora da promessa feita, e descobriu que não era tão importante assim quando vê que a promessa não foi cumprida.

Se um pai ou mãe não é fiel à sua palavra, ele não mostra confiabilidade. E, eventualmente, isso fará com que seu filho o desobedeça e perca o respeito por você.

As crianças aprendem muito com os pais. À medida que crescem, elas podem se tornar quebradoras de promessas. Elas podem pensar que é absolutamente bom e normal quebrar promessas. Aprenderam com seus pais.

Quarta lição – Provérbios 22:6. Ensine a criança no caminho dela e não no caminho de outra criança.

Provérbios 22:6 nos ensina que a criança precisa ser ensinada no seu caminho e não no caminho de outra criança. É preciso respeitar a criança, suas peculiaridades, talentos, características, potencialidades e limitações. Esse é um outro ensino marcante no judaísmo com suas raízes no Antigo Testamento – a תַּנַךְ

No texto original hebraico de Provérbios 22:6, a palavra traduzida por: seu caminho – é muito importante - : דַרְכּ֑וֹ (darko) - seu caminho – em hebraico tem o substantivo caminho mais o sufixo pronominal da terceira pessoal do singular, masculino – isto quer dizer que a educação da criança precisa levar em conta o seu caminho, o seu futuro, o seu chamado, isto é, o futuro da criança e ou sua inclinação e capacidade naturais.

O caminho de uma criança não é o caminho de sua irmã, irmão, amigo, amiga etc. Esta é a ideia do texto à luz da gramática.

Não se deve exigir que um cão voe. E não se deve treinar uma águia a nadar. Corremos o risco de matar ambos: cão e águia, se não respeitarmos suas inclinações e capacidades naturais. Feliz é a criança cujo pai a ensina a andar em seu caminho!

Quinta lição – Deuteronômio 6:4-7; 11:18-19.

Os textos de Deuteronômio 6:4-7 e 11:18-19, nos falam de uma educação infantil 24 horas por dia, sete dias na semana. Uma educação que tem a ver com Deus. Ensinar sobre Deus através da leitura, do estudo, da reflexão.

Esta educação do filho/a com ênfase na leitura, no estudo é uma das explicações do grande número de prêmios Nobel judeus nas mais diferentes áreas: economia, medicina, literatura etc.

No texto hebraico original de Deuteronômio 6:7, o  verbo é שָׁנַן (shanan) – que significa inspirar, estimular, aguçar, afiar, amolar. Em Deuteronômio 11:19, o verbo é לָמַד (lamad) que significa instruir, fazer aprender. O processo de aprender requer disciplina, mas com flexibilidade, perdão, graça. Onde há punição implacável, cruel e desmedida não existe aprendizado saudável, realizador, mas mutilador. Pais inflexíveis trazem grande dano para seus filhos. Eis a ideia plena, completa da arte de ensinar, aprender, com base nos verbos originais acima. Uma plenitude que tem a ver com qualidade, equilíbrio, harmonia.

Os pais, para instruir seus filhos, para inspira-los, para faze-los aprender a abrir suas asas e voarem, esses pais precisam ensinar algo que esteja em seus corações, em suas almas, eis o que o texto Bíblico nos quer ensinar. Pois, se o que ensinamos estiver em nós, em nosso coração e alma, então nossos filhos aprenderão não apenas aquilo que nós ensinamos, mas aquilo que somos, e, não apenas no domingo, no sábado, durante o momento do culto, mas o tempo todo e em todos os lugares e ocasiões.

E assim, ensino e aprendizado de pais e filhos serão como espelho e reflexo. Mais tarde, talvez descubramos que ao longo do caminho eles também foram espelhos e nós apenas um reflexo da grandeza deles, pois eles nos ensinaram, também, sobre a força que não sabíamos que tínhamos e sobre como lidar com os medos que não sabíamos que existiam dentro de nós.

Conclusão:

Resumindo e recapitulando: Cinco lições sobre a arte de criar filho à luz do Antigo Testamento: 1. Evite favoritismo; 2. Não crie filhos pensando no retorno financeiro, econômico, patrimonial que eles lhe darão no futuro; 3. Não prometa coisa alguma sem a certeza de poder cumprir; 4. Crie seu filho no caminho dele, isto é, respeite suas capacidades e limitações; 5. Crie seu filho ensinando os valores de Deus com afetividade, inteligência, integridade, humildade, pronto para aprender também, não apenas com palavras, mas com vida, 24 horas por dia, 7 dias na semana.

A educação de uma criança tem a ver com a arte de voar. Para uma criança abrir suas asas e voar, ela precisar ter segurança/confiança emocional, mental, espiritual.Não basta segurança física apenas. Precisamos ir além da matéria, do físico, precisamos alcançar o metafísico.  Muitas crianças nunca vão abrir suas asas por causa do medo, da insegurança, da baixa estima. Cabe aos pais, mais do que a qualquer outra pessoa ou instituição, produzir essa confiança/segurança emocional/mental, espiritual em seus filhos. E, os ensinos da Palavra de Deus, do Antigo Testamento (e do Novo Testamento também), fonte do Judaísmo e do Cristianismo, não apenas podem, mas são cruciais para que nosso filhos possam alçar seus voos quando crescerem.

Porque assim você será feliz e fará seus filhos e netos, também felizes, no tempo e na eternidade. Um forte abraço.