O soldado furou o lado de Jesus e saiu sangue e água

Data publicação 03/06/2022

 

O soldado furou o lado de Jesus e saiu sangue e água

Pastor Washington Roberto Nascimento

Esta passagem bíblica sobre o sangue e a água que saíram do lado de Jesus só se encontra no Evangelho de João (Jo. 19:34).

Embora estejamos interessados em entender o sentido do sangue e da água saindo do corpo de Jesus, o escritor bíblico o descreve como uma ocorrência inteiramente inesperada, imprevista, acidental. 

Na verdade, o propósito do apóstolo João com este texto: João 19:31-37, e com o seu livro como um todo, é ensinar que Jesus é o filho de Deus e como homem, morreu; e Deus, o Pai, o ressuscitou; e nele, isto é, em Jesus Cristo, as Escrituras se cumpriram.

Já no tempo do apóstolo João havia pessoas que negavam a humanidade e a divindade de Jesus. Este Evangelho de João combate essas duas heresias conhecidas como gnosticismo.

O apóstolo João com essa passagem (Jo. 19:31-37) está ensinando aos seus leitores que em Jesus Cristo as Escrituras se cumpriram e que por isso precisamos crer nele como o Filho de Deus. Ele fala aqui sobre esse seu propósito:

“Aquele que isto viu testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho, e ele sabe que diz a verdade, para que também, vós creiais” (Jo. 19:35).

No texto acima (Jo. 19:35) nós encontramos a indicação clara do propósito do escritor como, também, podemos ver no texto de João20:30-31.

“Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro”.

“Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”.

A parte mais importante deste texto de João 19:31-37, para o propósito de seu escritor, não é a parte que fala do soldado que com sua lança abriu um lado de Jesus fazendo sair sangue e água (Jo. 19:34).

A parte mais importante deste texto de João 19:31-37, de acordo com o propósito de seu escritor, é mostrar que, tanto na vida quanto na morte de Jesus Cristo, nós podemos ver o cumprimento das profecias do Antigo Testamento.

Neste texto de João 19:31-37, vemos que nenhum dos ossos de Jesus se quebrou e que as pessoas ao pé da cruz viram aquele a quem elas traspassaram, feriram.

“Porque isso aconteceu para que se cumpra a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo. 19:36).

“E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram/feriram” (João 19:37).

O escritor bíblico de João 19:31-37 está citando os textos do Antigo Testamento como profecias que tiveram o cumprimento em Jesus Cristo.

Sobre os ossos de Jesus que não se quebraram, o apóstolo João está citando o Salmo 34:20. Em acréscimo ao texto do Salmo 34:20, queremos dizer que o cordeiro da páscoa de Israel, desde o dia da libertação do Egito, não podia ter seus ossos quebrados (Êx. 12;46; Nm. 9:11-12). E é no Evangelho de João 1:29 que lemos que Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo. 1:29). Em Jesus Cristo podemos ver a Palavra de Deus (o Antigo Testamento) se cumprindo plenamente.

Quando o apóstolo João registra aquilo que o soldado fez com sua lança, feriu o lado de Jesus; o apóstolo João está citando o texto do Profeta Zacarias 12:10, como uma profecia que se cumpriu em Jesus Cristo:

“E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o meu Espírito de Graça e de súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram/feriram” (Zc. 12:10).

O verbo usado pelo escritor Bíblico em João 19:34, no texto original grego (- νύσσω - lê-se: nússo), e em João 19:37 (- ἐκκεντέω - lê-se: ekkentéo), embora diferentes, são sinônimos, e têm o mesmo sentido: furar, ferir, matar.

A mesma coisa podemos falar sobre o sentido dos verbos em Hebraico do texto original de Zacarias 12:10 (- דֶּקֶר - (lê-se: deker – דקר -), e de Isaís 53:5 (- חָלַל - lê-se: ralal - חלל -). O significado de ambos os verbos é: furar, ferir, matar. Jesus foi ferido literalmente pela lança do soldado e espiritualmente pelas nossas transgressões.

No livro do Apocalipse 1:7, o escritor bíblico, que é o mesmo do Evangelho de João, diz que Jesus Cristo voltará e o todo o olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram/feriram. Ele usa o mesmo verbo grego do texto de João 19:34 (- νύσσω - lê-se: nússo).

O sangue e a água que saíram do lado de Jesus ao ser ferido pelo soldado podem ser considerados como um acontecimento natural e miraculoso.

A explicação como um acontecimento natural diz que os sofrimentos físicos, mentais e emocionais de Jesus provocaram a separação dos elementos de seu sangue, numa espécie de sangue coagulado e soro aquoso.¹  

Foi esse soro aquoso que foi visto pelo apóstolo João, que ele interpretou como água, visto não ter a coloração vermelha do sangue (hemoglobina), que saiu do corpo de Jesus. Ele viu o sangue e o soro aquoso. Certamente foi um fluido liquido discreto, mas que chamou a atenção do apóstolo João e ele fez tal registro, mas não com propósito médico ou científico. Esse registro da crucificação de Jesus Cristo rico em detalhes mostra-nos que o apostolo João era um escritor descritivo, que registra suas observações, impressões, sensações objetivas e subjetivas. Todos nós, seus leitores, só ganhamos com a sua sensibilidade que sua pena não negou escrever.

As explicações médicas/cientificas dizem que na cruz Jesus tinha dificuldade de respirar, de expirar o ar dos pulmões, estava experimentando uma forma lenta de asfixia. O dióxido de carbono se acumulou no sangue, resultando em um alto nível de ácido carbônico no sangue. O corpo respondeu instintivamente, desencadeando o desejo de respirar. Ao mesmo tempo, o coração dele bateu mais rápido para circular o oxigênio disponível. A diminuição do oxigênio (devido à dificuldade de exalar) causou danos aos tecidos e aos vasos capilares, que começaram a vazar líquido aquoso do sangue para os tecidos. Isso resultou em um acúmulo de líquido ao redor do coração (derrame pericárdico) e pulmões (derrame pleural). Os pulmões em colapso, o coração falhando, a desidratação (Jesus passou muitas horas sem beber água e sem comer) e a incapacidade de obter oxigênio suficiente para os tecidos o sufocaram. A diminuição do oxigênio também danificou o coração de Jesus (infarto do miocárdio), o que, possivelmente, o levou à parada cardíaca. Essa situação de grave estresse cardíaco, possivelmente levou a explosão de seu coração, um processo conhecido como ruptura cardíaca. Jesus provavelmente morreu de ataque cardíaco.

O soldado perfurou um lado de Jesus (Jo. 19:34) para assegurar que Ele estava morto. Ao fazer isso, o apóstolo João escreveu dizendo que “saiu sangue e água” (João 19:34), referindo-se ao fluido aquoso que envolve o coração e os pulmões, sem saber, é claro, que estava dando uma informação médica que atestava a morte de fato de Jesus. Ele morreu.

A explicação como um milagre traz em si um sentido espiritual, simbólico, sem negar o fenômeno natural. Assim sendo, a água simboliza o batismo de Jesus e o sangue a sua morte.

Em sua Primeira Carta, o apóstolo João, no capítulo 5, versículo 6, falando de Jesus, escreveu o seguinte:

“Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade” (I Jo. 5:6).

No Antigo Testamento, no livro de Números 20:11, nós lemos que Moisés feriu a Rocha:

“Então, Moisés levantou a sua mão e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais” (Nm. 20:11).

O apóstolo Paulo disse em sua Primeira Carta aos Coríntios 10:4, que Jesus Cristo era a Rocha (que foi ferida) fonte de água para o povo de Deus.

“Todos beberam de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da Rocha espiritual que os seguia; e a Rocha era Cristo” (I Co. 10:4).

A interpretação tipológica, simbólica e espiritual do Antigo Testamento encontra-se presente no Novo Testamento; não apenas o apóstolo faz tal interpretação, mas o apóstolo João também. Já no ano 200, o evangelho de João era chamado de evangelho espiritual precisamente porque contava a história de Jesus de maneiras simbólicas, espiritual, nitidamente diferente dos outros três: Mateus, Marcos e Lucas.

Conclusão

“Um dos soldados furou o lado de Jesus com uma lança, e logo saiu sangue e água” (Jo. 19:34).

Sem dúvidas, o soldado feriu um lado do corpo de Jesus para verificar se ele estava morto de fato.

Ao mostrar a humanidade de Jesus, a sua morte; e também a sua divindade, ao longo de seu Evangelho, o apóstolo João estava combatendo o gnosticismo, que era uma religião que ensinava um conhecimento secreto, que o apóstolo Paulo chega a dizer que era um conhecimento falso - ψευδωνύμου γνώσεως – (I Tm. 6:20), que ensinava que o Cristo não poderia ser humano, pois a matéria é má, e o Cristo era divino.²

O gnosticismo ensinava que Jesus Cristo recebeu um ser divino, angelical, chamado de - αἰών – (lê-se: aión) no texto grego do Novo Testamento (Ef. 2:2). Os gnósticos diziam que o - αἰών – (lê-se: aión) habitou o ser humano Jesus no seu batismo e o deixou ante de sua crucificação.

A cicatriz do ferimento provocado pelo soldado no corpo de Jesus se tornou algo do conhecimento de toda a Igreja do Senhor. Jesus foi homem e Deus, este foi um dos propósitos do escritor apóstolo João. Ele combateu o gnosticismo assim como o apóstolo Paulo (I Jo. 4:2).

O apóstolo Tomé disse que não creria na ressurreição de Jesus compartilhada com ele pelos outros apóstolos, a menos que ele mesmo visse com seus olhos e tocasse com sua mão o lado de Jesus que foi ferido pelo soldado (Jo. 20:24).

O escritor bíblico nos diz que Jesus apareceu para Igreja e chamou a Tomé pelo nome e disse-lhe: “põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente” (Jo. 20:27).

Não há como duvidar, Jesus foi ferido no seu lado por um soldado com sua lança e dali saiu sangue e água. Que milagre! Que fato extraordinário! Quantas lições espirituais em volta desse acontecimento!

Há vários textos difíceis de serem entendidos na Bíblia, esse texto acima (Jo. 19:34) é um deles.

Este texto do apóstolo João (Jo. 19:31-37) tem como propósito ensinar para os seus leitores originais (e para nós ainda hoje) que Jesus Cristo morreu, ele era homem, ser humano. Essa era uma maneira de combater o gnosticismo que ensinava que Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, não era humano.

Um outro propósito que encontramos neste texto do apóstolo João (Jo. 19:31-37) é o de ensinar que em Jesus Cristo nós temos o cumprimento da Palavra de Deus. Ele é o Filho de Deus, ele é o Cristo de Deus. Essa era uma maneira de combater o gnosticismo que negava que Jesus Cristo era Deus, pois ensinava que Jesus era apenas uma entidade divina, angelical, conhecida e ensinada no gnosticismo como: αἰών (lê-se: aión – Ef. 2:2).

O apóstolo João, ao citar os textos do Antigo Testamento que se cumpriram na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo (Sl. 34:20; Zc. 12:10), nos ensina que podemos confiar na Palavra de Deus e no Deus da Palavra.

“Porque toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor”;

“mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada” (Pd. 1:24-25; Is. 40:6-8).

Esperamos que esta breve reflexão sobre o tema: o soldado que furou o lado de Jesus e fez sair sangue e água de seu corpo, com base no texto bíblico de João 19:31-37, tenha sido útil para sua vida espiritual.  Que você permaneça firme na fé na Palavra de Deus e no Deus da Palavra. Um forte abraço.

A Paz de Cristo!

Citações no texto

1. Para maiores detalhes sobre as causas naturais da morte de Jesus Cristo e explicações sobre o sangue e água que saíram do corpo de Jesus por causa da perfuração que o soldado fez com sua lança em um dos lados do corpo de Jesus, veja a obra:

The Physical Cause of the Death of Christ, de autoria de William Stroud, publicado Hamilton and Adams Publishers em 1847.

The Search for the Physical cause of Jesus Christ´s Death, de autoria de Reid Litofiel, uma publicação da Universidade de Brigham Young (Brigham Young University), Utah, USA.

Science of the Crucifixion, escrito por Cahleen Shier em 2002. Publicado pela Universidade Azusa Pacific (Azusa Pacific University), Azusa, California, USA.

2. Conhecimento falso – gnosticismo - ψευδωνύμου γνώσεως – (ψευδωνύμου – {lê-se: pseudonúmou} adjetivo, genitivo/ablativo, singular que vem de: ψευδώνυμος (lê-se: pseudónumos) - falso; mais - γνώσεως – {substantivo, genitivo/ablativo, singular que vem de: γνῶσις (lê-se: gnósis) – conhecimento.