Um Breve Estudo no Salmo 24

Data publicação 10/01/2021

Uma breve reflexão sobreo o texto do Salmo 24

Pastor Washington Roberto Nascimento

Salmo 24:1-10.

Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.

Porque ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre os rios.

Quem subirá ao monte do Senhor ou quem estará no seu lugar santo?

Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não recebe a mim mesmo com falsidade, nem jura enganosamente.

Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.

Esta é a geração daqueles que buscam, daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó. (Selá)

Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.

Quem é este Rei da Glória? O Senhor poderoso e destemido, o Senhor poderoso na guerra.
Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.

Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos; ele é o Rei da Glória. (Selá).

Ao longo deste texto, quando citarmos um texto bíblico do Antigo Testamento em hebraico ou do Novo Testamento em hebraico, vamos procurar coloca-los: 1. Com os sinais massoréticos; 2. E sem os sinais massoréticos.

O Salmo 24 pode ser dividido em três parágrafos: o primeiro, versículos 1 e 2, fala de Deus e de sua criação. O Segundo parágrafo: versículos de 3 a 6, fala de Deus e o seu servo, o crente. O terceiro (e último) parágrafo: versículos de 7 a 10, fala da exaltação de Deus, de sua glória, de sua realeza.

O Salmo 24 faz parte de uma trilogia, um grupo de três salmos messiânicos que se completam: O Salmo 22, o Salmo 23 e o Salmo 24. Eles são considerados salmos messiânicos, se cumprem em Jesus.

O Salmo 22 fala de Jesus como o Salvador, o que morreu por nós. Jesus citou esse salmo na cruz: Deus meu, Deus, por que me desamparaste? (Mt. 27:46).

O Salmo 23 fala de Jesus como o Bom Pastor, que nos guia, nos sustenta, está conosco. Jesus disse: Eu sou o bom o bom pastor, o bom pastor dá a vida pelas ovelhas (Jo. 10:11). Ele deu a vida por nós.  

O Salmo 24 fala de Jesus como o Rei, o Criador dos céus e da terra, o Senhor. Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam (Sl. 24:1). O apóstolo João disse que: Todas as coisas foram feitas por ele e sem ele nada do que foi feito se fez (Jo. 1:3). Os capítulos 1 e 2 de Gênesis nos ensinam a mesma coisa: Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aquele que nele habitam. Deus, à luz do Salmo 24, é rei e soberano Senhor de toda a terra e de tudo o que nela há. O Salmo ensina que este Senhor, Criador, é Javé, - יהוה - Jesus, que tem seu trono de graça colocado sobre o monte Sião. Ele não tem domínio territorial limitado, como as divindades pagãs. Sua soberania abrange a terra e sua plenitude (Salmo 50:12; Salmo 89:12).

Pertencemos a Deus, por direito de criação (Sl. 24). Pertencemos a Deus por que nos sustenta como um bom pastor cuida de suas ovelhas (Sl. 23). Pertencemos a Deus porque ele nos salvou, seu filho morreu em nosso lugar, deu a vida por nós, sua morte nos traz vida (Sl. 22). Não apenas Israel pertence ao Senhor, mas todos os moradores da terra. Não apenas o território, Canaã; a cidade de Jerusalém, o Monte Sião, mas toda a terra. Deus escolheu Abraão para ser uma bênção para todos os habitantes da terra e a mesma coisa ele fez com Israel e com sua Igreja, à luz do Novo Testamento.

O Salmo 24 tem dez versículos que podem ser divididos da seguinte maneira: Os versículos 1 e 2 falam do Deus da Criação. Os versículos de 3 a 6 falam do Deus da Santidade. Os versículos de 7 a 10 falam do Deus da Glória.

 A primeira parte, Salmo 24:1-2, que começa dizendo que se trata de um Salmo, uma canção de Davi. o texto hebaico diz - מִזְמֹורלְדָוִ֗ד  - (lê-se: ledavid mizmor) - diz, logo em seguida, que do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre os rios. Sem dúvida, temos aqui a poesia hebraica expressa em termos de um paralelismo sinônimo. Essa estrutura literária vai se repetir ao longo deste poema. A teologia desse Salmo, isto é, dos versículos 1 e 2, tem suas raízes na Torah, em Gênesis capítulo 1 e 2. Sua teologia tem eco no Novo Testamento. O Novo Testamento ensina que Jesus é Deus, e que Jesus é o criador de todas as coisas (Jo. 1:3).  Satanás não é dono de coisa alguma. Nós não somos donos de coisa alguma. Tudo pertence ao Senhor, nós, também, pertencemos a Ele. Podemos ignorar isso, mas nossa ignorância não muda o fato. Não temos nada e coisa alguma desse mundo levaremos. Até mesmo nosso corpo ficará aqui, mas nosso espírito voltará para Deus (Ec. 12:7).

O versículo 3 tem uma pergunta muito importante: “Quem subirá ao monte do Senhor

ou quem estará no seu lugar santo?”

Há várias perguntas importantes hoje em dia: O que vou estudar? Com quem vou me casar? Qual será a minha profissão? Como ser feliz?  E assim por diante.

Contudo, não há pergunta mais importante do que essa: Quem vai estar na presença do Senhor? Em síntese, em termos existenciais e essenciais, é disso que as perguntas do versículo 3 tratam.

O Monte do Senhor é uma referência a Jerusalém que foi conquistada por Davi. Ali ficava o Tabernáculo e depois, ali, o templo foi construído. O lugar ficou conhecido, também, como o Monte Sião, Fortaleza de Sião, cidade do grande rei Davi (II Sm. 5: 6-10; 6:12-19; I Cr. 11:4-10; 15:25-28; Sl. 125).

O lugar santo do versículo 3b pode ser entendido como o Monte Sião. Estamos diante do paralelismo sinônimo da poesia hebraica. A segunda frase repete a ideia da primeira frase com palavras equivalentes em termos de sentido, de significado.  O Salmista quer saber quem tem as condições, as marcas, as características para habitar com Deus, morar com ele, viver na presença dele. Não se trata de passar alguns minutos com Deus ou horas. Trata-se de estar na presenta dele 24 horas por dia, sete dias na semana.

A estrutura poética desse versículo 3 do Salmo 24 pode ser analisada com base no paralelismo e fica assim: quem subirá – equivale à – quem estará.  No texto original a palavra traduzida por subir é  עָלָה - (lê-se: alá   - que significa: ascender, subir, escalar.  E, a palavra traduzida por estar é  קוּם  (lê-se:kum) -  e significa levantar, ficar de pé, elevar-se. No monte do Senhor significa: no seu lugar santo.

O lugar santo, também, pode ser interpretado como o tabernáculo ou o templo, onde estava a arca de Deus e dentro da arca: a Lei do Senhor. Tudo isso aponta para a presença Senhor. Era o lugar de culto, de louvor, de oração, de adoração ao Senhor, de estudo da Palavra de Deus, a Casa do Senhor no topo de Jerusalém, no Monte Sião. Assim sendo, o Monte do Senhor e/ou Seu Lugar Santo apontam para o Tabernáculo de Deus, o Templo, a Casa do Senhor.

Muitos acreditam que o Salmo 24 seja de autoria do Rei da Davi e que ele o compôs por ocasião da condução da Arca de Deus -   אֲרֹ֤ון הָֽאֱלֹהִים֙ -  (lê-se: aron rahelorim) - Na LXX - τὴν κιβωτὸν τοῦ θεοῦ (lê-se: ten kiboton tu teú) - a arca do concerto - בְּרִית אֲרֹ֥ון  - (lê-se: aron berit) - Na LXX - τὴν κιβωτὸν διαθήκης Κυρίου (lê-se: ten kiboton diatekes kiríu) - à cidade de Jerusalém de acordo com o que se pode ler em II Samuel 6.

Esta arca de Deus é conhecida também como:  אֲרֹ֧ון בְּרִית־יְהוָ֛ה  - (lê-se: aron berit adonai) - a Arca da Aliança do Senhor - (I Rs. 8:1, 6). E como a arca da aliança - ארון ברית (lê-se: aron berit) no texto hebraico do Novo Testamento e  ἡ κιβωτὸς τῆς διαθήκης (lê-se: re kibotós tes diatékes) - no texto grego do Novo Testamento (Ap. 11:19).

Dentro da Arca, como já mencionamos, estava as tábuas dos dez mandamentos, a lei de Deus. A arca era um símbolo da presença do Senhor no meio de seu povo (Êx. 25:8-9 e 16).

A Arca ficava dentro do tabernáculo, no lugar santo e, posteriormente ficava no templo em Jerusalém, no Monte Sião.

Este lugar santo, este monte sagrado, tem um sentido metafísico, aponta para os céus, um lugar eterno, transcendente (Gl. 4:26; Hb. 12:22; Ap. 21:1-22:5). O nosso socorro, refúgio e fortaleza não se encontram no monte, mas naquele que fez o monte, os céus e a terra (Sl. 121). Este lugar foi preparado por Jesus, é a Casa do Pai (Jo. 14:1-3).

A pergunta do Salmo 24:3 não pode ser olvidada. Quem subirá ao monte do Senhor? Quem habitará em Sua Casa? Quem será seu hospede eterno? (Sl. 23).

Quem faz a pergunta é o homem, é o ser humano. Queremos a felicidade plena, total. Buscamos, como seres humanos, uma casa, em um alto monte, com conforto não apenas para o corpo, mas para a mente, as emoções, o espírito. Um lugar lá no alto, longe de todas as misérias deste mundo. Queremos um lugar santo, isto é, um lugar sem pecado, sem mal, sem erro, sem dor, sem tristeza, sem epidemia, sem morte.

Quem subirá a esse lugar? Quem conseguirá escalar tão alto? Quem habitará nesse lugar santo?

O tema ou os temas que encontramos no Salmo 24:3-4, encontram-se, também, presentes no Salmo 15 e em Isaías 33:14-16.

Salmo 15.

“Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu Santo Monte?

“Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente segundo o seu coração”;

“aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo”;

“aquele a cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda”.

“Aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem recebe subornos contra o inocente; quem faz isto nunca será abalado”.

Isaías 33:14-16.

“Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?”

“O que anda em justiça e que fala com retidão, que arremessa para longe de si o ganho de opressões, que sacode das suas mãos todo o suborno; que tapa os ouvidos para não ouvir falar de sangue e fecha os olhos para não ver o mal” (a ideia aqui é que ele, o servo do Senhor, não tem prazer, não participa do derramamento de sangue inocente, da pratica do mal, da injustiça - Todas essas frases, de fato, denotam a mais aguda aversão ao mal, da injustiça).

“este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, e as suas águas serão certas”.

A resposta à pergunta do versículo 3: Quem subirá ao monte do Senhor ou quem estará no seu lugar santo? Bem, a resposta é dada pelo próprio Deus: “Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a minha alma à vaidade, nem jura enganosamente” (Sl.24:4).

A tradução no versículo 4, de acordo com o texto hebraico original é – “minha alma” – נַפְשִׁ֑י – trata-se de um substantivo com sufixo pronominal da primeira pessoa do singular. É Deus falando. “Minha alma” tem o sentido de minha vida, meu nome, meu ser, minha pessoa”.

אֲשֶׁ֤ר לֹא־נָשָׂ֣א לַשָּׁ֣וְא נַפְשִׁ֑י  (lê-se: asher lô nassa lashave nafshi - Sl. 24:4).

Tradução: “que não levou/tomou/usou/recebeu para/com/na ( a) vaidade/falsidade/inutilidade a minha alma/ser/pessoa”.

A palavra hebraica NAFESHI -– נַפְשִׁ֑י(Sl. 24:4), vem de נֶפֶשׁ - (lê-se: nefesh) – e aparece em Amós 6:8 e Jeremias 51:14 - como sendo uma referência a própria pessoa do Senhor.

נִשְׁבַּע֩ אֲדֹנָ֨י יְהוִ֜ה בְּנַפְשֹׁ֗ו  (Am. 6:8).

נשבע אדני יהוה בנפשו  (Am. 6:8).

נִשְׁבַּ֛ע יְהוָ֥ה צְבָאֹ֖ות בְּנַפְשֹׁ֑ו (Jr. 51:14).

נשבע יהוה צבאות בנפשו (Jr. 51:14).

O verbo hebraico – שָׁבַע שָׁבַעjurar – encontra-se tanto em Amós quanto em Jeremias no nifal – נִשְׁבַּ֛ע  -  נשבע  - que é um grau, uma forma verbal em hebraico que tem a ideia da voz passiva ou reflexiva. A letra nun – נé a característica do nifal neste verbo.

“Jurou o Senhor, SENHOR, por sua alma (vida, ser, nome, pessoa, por si mesmo)”. Aqui, nesses dois textos bíblicos (Jr. 51:14; Am. 6:8), nós temos o mesmo substantivo feminino – alma – do Salmo 24:4. Trata-se da mesma palavra: נֶפֶשׁנפשA única diferença da palavra em Jeremias e Amós em comparação com a palavra no Salmo 24:4 é o sufixo pronominal. No Salmo 24:4 – o sufixo pronominal é da primeira pessoa do singular comum para os dois gêneros - נַפְשִׁ֑ינפשיMas, nos textos de Jeremias 51:16 e Amós 6:8, o sufixo pronominal é da terceira pessoa do singular masculino e o substantivo é o mesmo:  נַפְשֹׁ֗ו  -  נפשו -

Este texto bíblico: Salmo 24:4, também nos faz lembrar o texto de Êxodo 20:7. Há um vocabulário comum entre eles.

Êxodo 20:7 – “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”.

O verbo hebraico – נָשָׂא - נשא - que significa levar/receber/tomar/usar é o mesmo em Êxodo 20:7 e no Salmo 24:4.

O verbo grego da LXX usado para traduzir o verbo hebraico - נָשָׂא - נשא  -  acima é λαμβάνω tanto em Êxodo 20:7 quanto no Salmo 24:4.

A palavra hebraica – שָׁוְאשוא - que significa vaidade/falsidade/mentira/inutilidade é a mesma em Êxodo 20:7 e no Salmo 24:4.

A palavra grega da LXX usada para a tradução da palavra hebraica -  שָׁוְאשוא  - acima é ματαίῳ (que vem de μάταιος) tanto em Êxodo 20:7 quanto no Salmo 24:4.

Este estudo comparativos do uso do mesmo vocabulário em diferentes passagens bíblicos é muito importante para se traduzir corretamente, com coerência, a Palavra de Deus.

A tradução em Português de Provérbios 24:4, a parte que diz:  “não entrega a sua alma à vaidade” – segue o texto grego da LXX – Septuaginta – ou Septuagintas, pois, na verdade, existem várias traduções gregas com não apenas uma tradução, mas uma interpretação do texto hebraico e por isso mesmo diferente da Bíblia Hebraica, porém, todas identificadas como Septuaginta.

ἀθῷος χερσὶν καὶ καθαρὸς τῇ καρδίᾳ, ὃς οὐκ ἔλαβεν ἐπὶ ματαίῳ τὴν ψυχὴν αὐτοῦ, καὶ οὐκ ὤμοσεν ἐπὶ δόλῳ τῷ πλησίον αὐτοῦ.

“que não entregou/levou/recebou/tomou para/em vaidade/falsidade/inutilidade a alma dele” - ὃς οὐκ ἔλαβεν ἐπὶ ματαίῳ τὴν ψυχὴν αὐτοῦ.

Então, a expressão hebraica do texto bíblico original - נַפְשִׁ֑ינפשי“minha alma” – foi traduzida/interpretada por: τὴν ψυχὴν αὐτοῦ - “a alma dele” (a sua alma).

O verbo ἔλαβεν vem de λαμβάνω e está no aoristo do indicativo ativo, 3ª pessoa do singular e aparece neste tempo e nesta e nesta pessoa 309 vezes na LXX, texto grego do Antigo Testamento e é uma boa tradução do verbo hebraico: נָשָׂאנשאque significa: levar/receber/tomar/usar/levantar/invocar e aparece 653 vezes no Antigo Testamento Hebraico.

Baseados no texto bíblico do Salmo 24:4, podemos dizer que para habitar na presença do Senhor, precisamos de: 1. Ações corretas - Mãos limpas; 2. Pensamento, emoções, sentimentos puros - Coração puro; 3. Relacionamento correto com Deus - Não recebe/toma/leva/levanta/invoca o Senhor com falsidade/leviandade/vaidade/inutilidade; 4. Palavras verdadeiras – Não jura enganosamente.

Para viver no monte do Senhor, em Seu Santo Lugar, não basta ter os lábios limpos, é preciso ter, também, o coração limpo.

Limpo de mãos – nossos atos precisam ser puros, nossas ações em casa, no trabalho, na rua precisam ser puras. O que temos feito? Quais são as obras de nossas mãos? Nossas mãos estão limpas ou sujas?

Puro de coração – Deus sonda o nosso coração. Precisamos pedir que ele nos mostre o que em nosso ser interior precisa ser mudado. Nossas motivações, nossos pensamentos, nossas emoções. Deus quer trabalhar com o nosso ser interior porque é de lá que procedem os crimes, as injustiças, os adultérios, os roubos, o ódio etc.

Aquele que não jura enganosamente. Deus quer que nosso testemunho seja com palavras também. Não devemos falar mentiras. Alguns juram pelo céu, pela terra, por Deus. Jesus disse que não deveríamos jurar, bastaria a nossa palavra (Mt. 5:34-37).

Em síntese, como Deus responde à pergunta do Rei Davi, quem viverá na presença de Deus? Deus responde assim: procure ser santo, puro, limpo. 1. Com suas mãos puras – ações puras; 2. Com seu coração – pensamentos, emoções, sentimentos puros; 3. Com seu espírito, com seu culto, sua adoração/invocação de Deus – não toma Deus, o Senhor, como mentiroso, falso, inútil; 4. Com suas palavras – fala a verdade, fala de uma maneira que seja suficiente, sem necessidade de jurar. Isto é: Ação, pensamento, espírito, palavra.

O resultado do que temos nos versículos 3 e 4, encontra-se no versículo 5: Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação. A justiça de Deus é uma palavra/ideia crucial em toda a Bíblia. A palavra:  צְדָקָה  - justiça - וצדקה  - no grego do Novo Testamento a palavra é, mas o texto grego da LXX traduziu a palavra hebraica -    - justiça – para a palavra grega   -  ἐλεημοσύνην – que vem de = -  ἐλεημοσύνη – misericórdia, ao invés de δικαιοσύνη – justiça (Rm. 1:17). A palavra   δικαιοσύνη aparece 259 vezes no texto grego da LXX – Septuaginta, e 92 vezes no Novo Testamento grego.

O salmista diz, então, que o servo de Deus que traz em si as marcas vista em Salmo 24:4, recebera a bênção do Senhor e justiça/misericórdia de sua salvação

O verbo receber aqui, no texto original é o mesmo do versículo 4: נָשָׂ֣א

A ideia é a seguinte: aquele que não recebeu o Senhor com falsidade, mentira, etc;  mas recebeu o Senhor com verdade, sinceridade, arrependimento, fé; este vai receberá: bênção e justiça (misericórdia) da salvação do Senhor.

Ele receberá a bênção do Senhor dos Exércitos -   יִשָּׂ֣א בְ֭רָכָה מֵאֵ֣ת יְהוָ֑ה וּ֝צְדָקָ֗ה  

Ele receberá a justiça do Senhor dos Exércitos:  וּ֝צְדָקָ֗ה מֵאֱלֹהֵ֥י יִשְׁעֹֽו יְהוָ֑ה

ישא ברכה מאת יהוה וצדקה מאלהי ישעו׃  (Sl. 24:5)


Aquilo que Deus espera de nós, ele providencia: Ele pode limpar nossas mãos e coração, ele pode nos dar o Seu Espírito para dirigir o nosso espírito para que o nosso culto seja agradável a Deus. Ele limpa os nossos lábios para que as palavras de nossa boca sejam agradáveis a Ele e façam bem, não apenas a Ele, mas a nós mesmos e ao nosso próximo.

Que Deus tremendo é o nosso Deus. Ele é chamado neste Salmo 24 de o rei da Glória. O Salmo termina com uma pergunta e uma resposta: Que é este Rei da Glória? O mundo precisa conhecer, você precisa conhece-lo e depois revela-lo. Quem é ele?

O Salmista responde: O Senhor dos Exércitos, imbatível, todo poderoso para fazer, perdoar, restaurar, conserta, amar, ...Ele é o Rei da Glória.

מִ֤י ה֣וּא זֶה֮ מֶ֤לֶךְ הַכָּ֫בֹ֥וד יְהוָ֥ה צְבָאֹ֑ות ה֤וּא מֶ֖לֶךְ הַכָּבֹ֣וד סֶֽלָה׃

מי הוא זה מלך הכבוד יהוה צבאות הוא מלך הכבוד סלה׃

Glória é uma palavra muito rica e muito importante no estudo da Bíblia. Moisés pediu para que Deus mostrasse a sua glória -  כָּבוֹד  - כבוד  - (Êx. 33:18-19). E Deus lhe deu uma resposta que nos ajuda a entender o significa da glória de Deus: “Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti e apregoarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer”.

A glória de Deus tem a ver com sua bondade, amor, misericórdia. Tem a ver com o Seu nome.

No Novo Testamento Jesus revelou a glória de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória - δόξα , como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1:14).  A glória de Deus tem a ver com a pessoa de Jesus, seus milagres, seus gestos, ações e palavras de graça e verdade. “Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia e manifestou a sua glória - δόξα - e os seus discípulos creram nele” (Jo. 2:11).

Que nós possamos, como discípulos de Jesus, revelar ao mundo a glória de Deus através de graça e verdade, bondade e misericórdia. É assim que seremos felizes e faremos outros também felizes no tempo e na eternidade.

Pastor Washington Roberto Nascimento