Uma breve reflexão sobre os Evangelhos Sinópticos
Pastor Washington Roberto Nascimento
Introdução
Nós agradecemos a Deus por termos 4 testemunhos da pessoa do Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento conhecidos como Evangelhos.
Como seria perigoso e triste termos apenas uma narrativa, somente uma visão, não mais que um testemunho do nascimento, ministério, obras, milagres, vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo!
Nossas vidas são compostas de muitas histórias sobrepostas. Se tivéssemos apenas uma única história sobre a pessoa do Senhor Jesus Cristo, correríamos o risco de uma visão errada dele, de seus ensinos e obra.
Nenhum dos evangelistas conta a história completa de Jesus. E mesmo quando colocamos todas as suas narrativas juntas, ainda assim percebemos que não temos tudo que gostaríamos de ter sobre a pessoa de Cristo Jesus (Jo. 20:30,31; 21:25; I Co. 13:12).
Jesus não era apenas um homem, ele era, também, Deus entre nós. Por isso, é simplesmente impossível conhecer tudo plenamente dessa eternidade que invadiu o tempo e tabernaculou entre nós.
No final do Evangelho do apóstolo João, ele escreveu o seguinte a propósito da impossíbilidade de registrar tudo sobre a pessoa, vida, ensino e obra de Jesus: "Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém" (Jo. 21:25). Agradecemos a Deus pelo que temos registrado no Novo Testamento (e no Antigo Testamento também) sobre a vida de Jesus Cristo. Mas cremos que o Senhor Jesus Cristo fez, faz e fará muito mais e além de tudo aquilo que pedimos ou pensamos (I Co. 2:9; Ef. 3:20).
O último Evangelho, o Evangelho de João, é muito diferente dos outros três primeiros Evangelhos e provavelmente não se baseou na mesma fonte. Esse Evangelho merece um tratamento próprio e separado.
Graças a Deus, além do Evangelho de João, temos os 3 primeiros Evangelhos conhecidos como Sinópticos: Mateus, Marcos e Lucas. E é sobre eles que vamos refletir neste momento. Cada um deles apresenta uma visão pessoal do Senhor Jesus, mas com um contorno geral comum. Isso nos permite estudá-los analisando as coisas comuns e as coisas diferentes presentes em seus três textos. Mateus e Lucas fizeram uso de Marcos e, também, de uma fonte comum para ambos, conhecida no mundo acadêmico como fonte: Q – do alemão: Quelle.
Embora as narrativas dos evangelistas do Novo Testamento sejam diferentes, elas não devem ser consideradas contraditórias, mas complementares. Elas formam um todo, mais harmonioso e completo, na descrição, na fotografia do Filho de Deus conhecido como Jesus de Nazaré. Cada um contribui para o mosaico enquanto tentamos juntar as peças da vida e missão de Jesus e seu significado para nós.
Essa palavra - Sinópticos - vem do grego: συνοπτικός – (lê-se: sunoptikós ou sinoptikós). Essa palavra é formada por: συν (lê-se: sun – ou sin - com, junto) + ὀπτός (lê-se: optós - visto, visível).
Sinópticos - συνοπτικός – (lê-se: sunoptikós ou sinoptikós) - tem a ideia de oferecer uma visão geral de um todo. No caso dos Evangelhos Sinópticos, temos muito da mesma história ou pessoa, Jesus Cristo, com muitos paralelos semelhantes.
Vamos refletir sobre: 1. De onde esses Evangelhos Sinópticos vieram? 2. Quem os escreveu? 3. Para quem eles foram escritos? 4. Quais são as principais ênfases teológicas de cada um dos três evangelistas, especialmente o retrato distinto de Jesus e dos seus discípulos.
É importante que se saiba que não temos os manuscritos originais dos Evangelhos e de nenhum livro da Bíblia. O que temos é cópia de cópias.
Além disso, é importante que se saiba que, em termos gerais, nenhum escritor bíblico datou e assinou o seu livro, nem mesmo nos informou onde estava quando escreveu o seu texto. As exceções a essa regra são os preâmbulos das cartas no Novo Testamento, dos livros proféticos e de alguns salmos no Antigo Testamento.
Assim sendo, o que falamos sobre autoria, data, destinatário e onde o escritor estava, o fazemos com base no testemunho interno do livro, aquilo que podemos concluir de maneira indireta ou direta à luz do texto, e com base nas citações de escritores que viveram mais próximos dos autores bíblicos e que deram os seus testemunhos pessoais sobre esses temas.
O Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos foi o primeiro, entre os quatro Evangelhos, a ser escrito. Ele foi escrito em Grego, bem como todos os livros do Novo Testamento. Por isso, há coisas na tradução para o Português que podemos perder. Precisamos ter consciência de que nenhuma tradução consegue passar tudo que se encontra no original. A tradução traz sempre uma interpretação.
O Evangelho de Marcos foi escrito para, principalmente, convertidos não judeus, romanos em sua maioria. João Marcos deve ter sido filho de pai romano e mãe judia. Seu nome João aponta para a ascendência judia, enquanto Marcos para a ascendia romana.
O objetivo principal do escritor, João Marcos, é enfatizar que Jesus é o Filho de Deus, o servo do Senhor.
Desde o início de seu livro, João Marcos quer que seus leitores saibam quem Jesus é: O Cristo, o Filho de Deus (Mc. 1:1). Mas ao longo do livro, os seus discípulos parecem não saber quem Jesus é, ou pelo menos, o tipo de Cristo que Jesus é, o Servo Sofredor (Mc. 8:27-34). Por causa da compreensão política e populista do Cristo de Deus que os discípulos tinham, Jesus procura ocultar sua identidade messiânica. Jesus parece não querer que as pessoas creiam nele como o Cristo que opera curas e milagres. Ele chega ao ponto de proibir que as pessoas divulguem que ele é o messias que cura e faz milagres – não contem isso para ninguém (Mc. 1:43-44; 5:43; 7:36; 8:26; 8:30). Isso é conhecido como o segredo messiânico de Jesus.
Ao longo do Evangelho de Marcos (e dos outros Evangelhos também), Jesus revela consciência de quem ele é: O messias, o Cristo de Deus, que sofre, morre e ressuscita, vence o pecado e a morte. Mas os discípulos de Jesus só entendem isso depois que tudo acontece: sua morte, ressurreição e a descida do Espírito Santo sobre eles.
No final de seu ministério, o Senhor Jesus se concentra em estar com os seus discípulos e dar a eles suas últimas instruções e instituir a nova aliança com a sua igreja, o seu povo (Mc. 13:1-37).
A narrativa de Marcos (e dos outros evangelistas também) se desenvolve com rapidez em direção à paixão e à crucificação de Jesus. O soldado romano, que estava ao pé da cruz, vendo Jesus morrer, declara aquilo que tem tudo a ver com o que João Marcos havia escrito bem no início do seu Evangelho: Na verdade, este homem era o filho de Deus (Mc. 15:39; 1:1).
O tema do segredo messiânico agora chega ao auge com esta explicação/revelação: Você não pode entender Jesus como o messias de Deus, sem sua paixão e morte. Caso você pregue Jesus como um operador de milagre ou um grande mestre, você não está contando toda a história, você está ocultando uma parte que não deve, não pode ser ocultada: ele sofreu por nós, ele morreu por nós.
Mas o sofrimento e a morte de Jesus não são o fim da história. No capítulo 16 de Marcos nós temos o registro da ressurreição de Jesus. Há algo muito intrigante neste final: As mulheres aparecem para cuidar do corpo de Jesus e elas encontram um anjo que lhes dá a boa notícia: Ele não está aqui, já ressuscitou (Mc. 16:1-8). É assim que aprendemos que havia, também, mulheres seguindo a Jesus. Essas foram as primeiras a ouvirem a boa nova: Ele não está morto, ele ressuscitou!
As mulheres sabiam o que os apóstolos não sabiam. Elas sabiam onde o corpo de Jesus havia sido sepultado, por isso elas foram lá. Elas não apenas sabiam, elas queriam cuidar do corpo de Jesus. Pensavam que ele estivesse morto, como os apóstolos também pensavam. Eles não prestaram atenção ou não criam ou não entendiam, ou todas essas coisas, nas palavras, nos ensinos de Jesus: o seu sofrimento, a sua morte e a sua ressurreição.
Em Marcos 16:8, o texto grego diz que as mulheres quando ouviram falar da ressurreição de Jesus ficaram possuídas por sentimento de τρόμος (lê-se: trómos) – tremor – no sentido de profunda reverência diante de algo ou alguém. Outra palavra que o Evangelista Marcos usa para descrever o sentimento das mulheres que eram discípulas de Jesus é: - ἔκστασις – (lê-se: équistasis) – trata-se de: êxtase, um profundo estado de admiração. As mulheres experimentaram: τρόμος καὶ ἔκστασις - (lê-se: trómos kai équistasis) - ou seja – uma profunda reverência e admiração em face da epifania, daquele anúncio do anjo, daquela revelação divina: Jesus ressuscitou! As mulheres não falam coisa alguma. Elas se calam diante de algo maior, majestoso e sagrado, pois coisa alguma é apropriada nessa hora, apenas o silêncio. Trata-se de um silêncio que revela humildade, respeito, fé e adoração.
O que se tem registrado aqui no capítulo 16 do Evangelho de Marcos, o silêncio das mulheres que eram seguidores de Jesus, é algo (um sentimento) difícil de ser descrito com palavras. O que se espera do leitor deste Evangelho (de você e de mim, de nós) é a mesma resposta dada por essas mulheres cujos nomes foram registrados: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé. Que o sentimento de contemplação possa tomar conta de nós quando lemos ou ouvimos: Ele ressuscitou! É um convite para esvaziarmos de nós mesmos e nos abrirmos para o Espírito Santo de Deus nos transformar, fazer de nós aquilo que Ele quer que sejamos: Uma testemunha viva de que Jesus está vivo, ele vive em nós.
A instrução dada às mulheres, pelo anjo, é muito interessante: Agora vão e digam aos discípulos, incluindo Pedro, que Jesus vai adiante deles à Galileia. Vocês o verão lá, como ele lhes disse (Mc. 16:7).
É maravilhoso ver o cuidado de Jesus para com todos. O anjo diz as mulheres que elas deveriam dizer aos discípulos, em especial a Pedro, que Jesus ia adiante e os aguardava na Galileia. Jesus queria estar com Pedro, pois Pedro havia negado a Jesus, mas Jesus queria ter um encontro com ele, para dizer-lhe que ele estava perdoado e deveria cumprir a missão que lhe foi dada: cuidar do rebanho, das pessoas, da Igreja de Jesus. Jesus desejava perdoar Pedro, restaurar Pedro, curar Pedro, renovar a missão dada a Pedro. Jesus quer fazer o mesmo com você e comigo. Ele não nos descarta por causa das nossas falhas. O cônjuge pode descartar você, os seus pais, a igreja e a escola também, mas Jesus não. Todo aquele que se arrepende de seus pecados e volta para Jesus crendo em Seu amor e perdão, jamais será rejeitado ou descartado, pois onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm. 5:20).
O final do livro de Marcos é um convite para nós, os seus leitores, proclamarmos as boas novas do amor de Jesus, de seu perdão, de seu poder sobre o pecado e a morte. Ele morreu por amor e ressuscitou por amor. Ele venceu o pecado e a morte.
A missão da proclamação das boas novas: Jesus ressuscitou, é dada as mulheres e aos homens, de ontem e de hoje. Cabe a todos nós fazermos a proclamação, não apenas com palavras, mas com as nossas ações, a nossa vida, os nossos relacionamentos: Jesus ressuscitou! Ele venceu o pecado e a morte. Que notícia maravilhosa de esperança, de uma nova vida, da vida eterna.
Antes de concluirmos o Evangelho de Marcos, precisamos dizer que o texto de Marcos 16:9-20 não se encontra nos melhores manuscritos. Esse texto se encontra, normalmente, entre colchetes em nossas Bíblias, para informar aos leitores que ele não faz parte do texto bíblico original (o texto grego mais antigo – não há texto original). Mas nós recebemos esse texto como digno de crédito e valor. Esse texto tem o seu valor para nossas vidas espirituais, para a proclamação e o ensino. Cremos ser importante essa observação sobre esse final de Marcos 16:9-20.
Em termos literários, quando consideramos Marcos 16:8 como o final deste Evangelho, podemos dizer que o seu autor começa e termina a sua obra abruptamente.
No início do Evangelho de Marcos não tem nenhum relato do nascimento de Jesus. José, marido de Maria, não é citado nesse Evangelho. Jesus é mencionado apenas como filho de Maria (Mc. 6:3). Em outro momento, sem citar o nome de Maria, o escritor bíblico do Evangelho de Marcos diz que a mãe de Jesus e seus irmão foram pegá-lo e levá-lo para casa, pois foram informados que Jesus estava louco (Mc. 3:20-21, 31-32).
Uma análise literária do texto grego no final do Evangelho de Marcos (Mc. 16:9-20) mostra que a linguagem e o estilo não são os mesmos que encontramos ao longo dessa obra, ou seja, nos outros capítulos de Marcos de 1 a 15.
Crê-se que esse texto do Evangelho de Marcos 16:9-20 foi colocado com o propósito de apresentar um final apropriado usando trechos dos finais de Mateus, Lucas e João.
Além disso, os pais da Igreja, Clemente de Alexandria e Orígenes, do século III d.C. e Eusébio (séc. IV d.C.), conhecido como o pai da história da Igreja, e Jerônimo (séc. IV e início do séc. V d.C.), tradutor da Bíblia para o latim, não mencionam/reconhecem esse texto do Evangelho de Marcos (Mc. 16:9-20), como original do segundo livro do Novo Testamento.
Possivelmente essas observações colocadas acima sobre o texto do Evangelho de Marcos expliquem porque esse Evangelho não foi o primeiro do Novo Testamento, mesmo tendo sido o primeiro a ser escrito.
Neste Evangelho de Marcos (e nos outros também), Jesus pede no Getsêmani que o Pai, o Aba – papai - Ἀββά ὁ πατήρ – (lê-se: abá ró patér) - se for da vontade dele, que o poupe daquele sofrimento, daquela morte (Mc. 14:32-42). Um pouco mais à frente, na cruz, Jesus disse para Deus: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mc. 15:34).
Jesus é exemplo para todos nós que sentimos, muitas vezes, abandonados pelos amigos e pelo próprio Deus. Jesus permance diante de Deus, o Pai, buscando a Sua face, querendo entender a Sua vontade e submisso a Ele apesar de todo o sofrimento e um estranho sentimento de abandono.
Esse é o ensino geral de toda a Bíblia. A despeito do sofrimento e de qualquer sentimento de tristeza e dor, somos ensinados a permancer diante de Deus. José foi vendido pelos seus irmãos; foi preso injustamente no Egito; sofreu horrores longe da sua família e terra, mas permanceu diante do Senhor. O mesmo podemos dizer de Jó. Ele perdeu a família, os bens materiais, a saúde, etc. Como ele sofreu! O apóstolo Paulo, que um dia perseguiu a igreja de Cristo, terminou a sua vida na prisão, sendo perseguido por amor a Jesus Cristo e a Sua Igreja. A lista de seus sofrimentos é algo terrivel (II Co. 11:16-33). Em sua II Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo escreveu sobre a sua dor sem máscara, abertamente, de forma honesta, sem esconder a sua vulnerabilidade: "Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a nossa tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos" (II Co. 1:8).
Mas todos permaneceram diante de Deus em suas lutas marcadas por tantas perdas, por tanta dor e incompreensão de todos os seus familiares e amigos. Jesus, o nosso salvador, o filho de Deus, é o exemplo maior.
Jesus começou seu ministério citando a Palavra de Deus no deserto, na tentação, e, logo a seguir, na sinagoga, em um culto (Lc. 4:1-21). Ele terminou o seu ministério, na cruz, citando a Palavra de Deus, o Salmo 22. Esse Salmo começa com um grande grito de dor, de sofrimento, mas termina com uma palavra de louvor e fé. Certamente, Jesus o conhecia do início ao fim.
Os discípulos de Jesus, várias vezes, tentaram convencer Jesus que o Cristo de Deus não sofreria. Jesus os repreendeu severamente (Mc. 8:31-33). É interessante observar que os discípulos continuaram com Jesus apesar de não entenderem direito o que ele ensinava. Jesus, também, continuou obedecendo o Pai, buscando a sua face, mesmo quando não queria (não entendia) fazer as coisas que lhe traziam (causavam) tanto sofrimento.
Acredita-se que esse livro foi escrito por João Marcos por volta do ano 60 d.C., enquanto ele estava em Roma, na companhia do apóstolo Pedro, de quem era filho na fé (1 Pd. 5:13), e cuja mãe, Maria, discípula de Jesus, tinha uma casa em Jerusalém, onde a Igreja se reunia (At. 12:12-14). João Marcos era parente de um líder importante da Igreja Primitiva, Barnabé (At. 4:36-37; 11:21-30; 12:23-25; 13:1-2; Cl. 4:10), possivelmente por parte de mãe.
As explicações que João Marcos apresenta em seu Evangelho para os costumes judaicos reforçam a tese de que ele, na verdade, estava escrevendo para não judeus que ignoravam tais tradições (Mc. 7:1-4). Tais explicações não fariam sentido caso João Marcos estivesse escrevendo para judeus.
Não há como negar, João Marcos escreveu mesmo para os romanos (os gentios). Ele apresenta Jesus como o servo do Senhor. Em seu livro nós não encontramos genealogia como em Mateus e Lucas. Os romanos não estavam interessados nessas coisas.
No Evangelho de Marcos, o advérbio grego - εὐθὺς (euthús) – traduzido por: imediatamente ou logo, aparece 87 vezes em todo o Novo Testamento, de acordo com Strong´s Lexicon, e 42 vezes só em Marcos. Isso mostra a velocidade em que a história (os acontecimentos) corre no Evangelho de Marcos, como o Servo do Senhor (Jesus) agia de forma incansável, dinâmica, operando a salvação, as curas, as libertações de todos os oprimidos. No Evangelho de Matheus esse advérbio só aparece 15 vezes; em Lucas, apenas 8 vezes, e em João, apenas 4 vezes.
O Evangelho de Marcos apresenta um texto dinâmico. A conjunção aditiva "e" no texto grego - καί (lê-se: kai) - no Evangelho de Marcos indica a sucessão de eventos em um ritmo acelerado. Ela ocorre 1095 vezes no Evangelho de Marcos, mais do que em qualquer outro livro do Novo Testamento em termos proporcionais. Na verdade, o grego de Marcos é caracterizado pelo uso de conjunções. Há treze capítulos no Evangelho de Marcos começando com a conjunção aditiva: “e” - καί (Mc. 2; 3; 4; 5; 6; 7; 9; 10; 11; 12; 13; 15; 16).
João Marcos começa o seu Evangelho logo falando do ministério de João Batista, e sem demora, trata imediatamente do batismo de Jesus e de seu ministério com curas, milagres, convocação dos apóstolos, etc. Tudo isso em seu primeiro capítulo (Mc. 1).
O Evangelho de Mateus
Antes de ser chamado por Jesus, Mateus trabalhava como cobrador de impostos, profissão desprezada pelos judeus por estar associada à corrupção e à colaboração com o Império Romano, que oprimia o povo judeu.
Marcos tem o objetivo de mostrar que Jesus é o Filho de Deus, o Messias (Mc. 1:1; o Cristo), Servo do senhor, o Servo sofredor que tem suas raízes em Isaías 53.
Lucas tem o objetivo de mostrar que Jesus é o Messias (o Cristo) de Deus, o novo Adão, em quem e por meio de quem uma nova humanidade (o novo povo do Senhor) é formada (Lc. 3:23,38).
Mateus tem o objetivo de mostrar que Jesus é o Messias (o Cristo) prometido no Antigo Testamento - na Bíblia Hebraica - תַּנַךְ – (lê-se: thanar), o novo Moisés, o novo Israel, o filho de Davi, o filho de Abraão (Mt. 1:1).
Moisés é considerado um mestre e Jesus é apresentado por Mateus como um mestre semelhante a Moisés, ou seu substituto, ainda maior. Quando a história de Jesus em Mateus era lida no primeiro século para os cristãos judeus, certamente eles logo lembravam da história de Moisés e/ou do próprio povo de Israel. Os temas presente em ambas as histórias são semelhantes. Jesus foi protegido miraculosamente de um rei que queria matá-lo. Deus trouxe Jesus para a terra da promessa. Jesus passou pelas águas. Jesus passou pelo deserto. Jesus subiu ao monte e ensinou o povo do Senhor a Lei de Deus (Mt.5:1-2).
A Torah - תּוֹרָה - (lê-se: torah), que é considerada de autoria de Moisés, não significa apenas lei, mas instrução, ensino também. Talvez seja por isso que no Evangelho de Mateus existe cinco blocos principais de ensino que faz lembrar os cinco livros da Torah. Há mais ensinamentos entrelaçados na narrativa do livro como um todo, mas há cinco blocos distintos de ensino que Mateus reuniu de forma mais temática: Sermão da Montanha (Mt. 5-7), Envio dos Discípulos (Mt. 10), Parábolas do Reino (Mt. 13), Conduta no Reino (Mt. 18) e Imagens do Julgamento (Mt. 24-25). Grande parte do conteúdo aqui pode ser encontrado em quantidades variáveis nos outros sinópticos . Em Lucas e Marcos, o conteúdo semelhante é frequentemente espalhado por toda a narrativa, em vez de consolidado em blocos temáticos como em Mateus.
Em termos literários podemos e devemos dizer que os Evangelhos não são histórias ou biografias de Jesus, rigorosamente falando. São testemunhos da fé dos seguidores de Jesus, da Igreja Primitiva, documentos que visavam (e ainda visam) testificar, explicar, fortalecer a fé dos discípulos (da Igreja) de Jesus. É documento de fé, de testemunho da Igreja para a Igreja, de alguns discípulos (Mateus, Marcos, Lucas, João, etc.) para outros discípulos (você e eu entre outros milhões) ao longo da história.
Mateus e Lucas falam da infância de Jesus de maneira singular. Mateus dá ênfase a José (Mt. 1:19,20,24; 2:13,19), enquanto Lucas dá ênfase à Maria (Lc.1:28,29,34,38,39,46,56).
Mateus sublinha, mais do que os outros evangelistas, como Jesus foi um bom judeu, como ele obedecia aos ensinos da Torah e ia além. Por exemplo:
Mateus 5:17.
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim destruir, mas cumprir”.
E Jesus cumpriu a lei e os profetas como nenhum outo. Ele foi além da mera letra.
Mateus 5:43-44.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo”.
“Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”.
No Evangelho de Mateus, nós encontramos Jesus dizendo duas vezes que ele só foi enviado as ovelhas perdidas da casa de Israel. Por exemplo:
Mateus 10:5-7.
“Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos”;
“Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel”;
“E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus”.
Mateus 15:24.
“Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”.
No Evangelho de Mateus, nós encontramos, também, Jesus criticando duramente os escribas e os fariseus, os líderes da religião judaica (Mt. 23). Essa briga pode ser interpretada como uma discussão familiar, coisas de família ou de líderes da mesma religião (igreja), com pontos de vista diferentes sobre determinados assuntos. As questões estavam relacionadas a hermenêutica, como interpretar o Antigo Testamento (a Bíblia Hebraica), e o que na tradição precisava ser mudado e rejeitado, visto não ter base no texto bíblico.
De alguma maneira, o texto de Mateus nos convida a refletir sobre como interpretar o Antigo Testamento, como a Igreja de Jesus deve lê-lo; o que podemos preservar do Antigo com base na hermenêutica e vida de Cristo Jesus.
A palavra justiça - δικαιοσύνη – (lê-se: dikaiosúne) - ocorre mais no Evangelho de Mateus do que em qualquer outro Evangelho. Essa palavra ocorre 6 vezes em Mateus, 1 vez em Lucas, 2 vezes em João e nenhuma vez em Marcos (Mt. 3:15; 5:6,10,20; 6:1,33; 21:32; Lc. 1:75; Jo. 16:8,10).
Jesus disse para João Batista: me convém cumprir toda a justiça - δικαιοσύνη – (lê-se: dikaiosúne - Mt. 3:15). É assim que devemos entender o texto bíblico. O uso da 1ª pessoa do plural no texto grego de Mateus 3:15 - ἡμῖν – (lê-se: a nós) – deve ser entendido como plural de modéstia, plural majestático, que expressa humildade da parte de Jesus, sua solidariedade, seu afeto.
Jesus disse para os seus discípulos: Felizes os que têm fome e sede de justiça - δικαιοσύνη – (lê-se: dikaiosúne), pois eles serão plenamente satisfeitos (Mt. 5:6).
A palavra justiça na Bíblia não significa algo que mereçamos, seja bom ou ruim, prêmio ou castigo. Essa palavra, na Bíblia não significa justiça própria. Ela tem a ver com Deus. Na Bíblia aprendemos que no Deus revelado por Cristo Jesus: justiça, graça, verdade e paz andam de mãos dadas. Justiça tem a ver com o relacionamento correto com Deus. Algo operado por Deus em nosso favor. Na Bíblia a graça e a verdade se encontram, a justiça e a paz se beijam (Sl. 85:10).
A parábola em Mateus 20:1-16, contada por Jesus, nos ensina sobre o tema da justiça. Nessa parábola o dono da vinha, Deus, contrata trabalhadores em 5 diferentes momentos do dia. No final do dia, o Senhor paga a todos os trabalhadores o mesmo salário, mesmo sabendo que eles não haviam trabalhado a mesma quantidade de horas. Os que trabalharam mais horas acham injusto o que o Senhor fez. Porém, o Senhor não pagou menos do que havia combinado. Na Bíblia, a ideia da justiça de Deus encontra-se não em nossa performance, mas na bondade de Deus. Na parábola de Jesus (Mt. 20:1-16), o Senhor dá a todos os seus servos aquilo que eles precisam para suprir suas necessidades, mesmo que alguns tenham um desempenho inferior em comparação com outros. O valor pago a cada pessoa nessa parábola era o necessário para comprar comida para alimentar uma pequena família em um dia. O valor combinado foi um denário por dia - δηνάριον – (lê-se: denárion – Mt. 20:2).
Caso um trabalhador recebesse menos que um denário, que era o salário diário padrão de um trabalhador ou soldado romano, ele passaria fome no tempo do Novo Testamento.
Há muito tempo as pessoas têm sido avaliadas apenas com base no seu desempenho e não nas suas necessidades. Isso não é justiça, aos olhos de Deus, de acordo com o ensino bíblico. Há muitas pessoas que não têm trabalho (emprego) por causa da idade, ou por falta de oportunidade de trabalho (emprego) ou de habilidade, capacidade, condições físicas ou intelectuais. Mas todas têm necessidade diárias que precisam ser supridas. É isso que Deus quer que os homens na terra aprendam, pessoas físicas ou jurídicas, privadas ou públicas.
Outro tema presente no Evangelho de Mateus e que merece destaque é o ensino sobre perdão, a importância de perdoar - ἀφίημι (lê-se: afíemi – Mt. 6:12 {2x}; 6:14 {2x}; 6:15 {2x}; etc.). Este verbo: perdoar - ἀφίημι – aparece 146 vezes no texto grego do Novo Testamento, dessas ocorrências, 46 se encontram só no Evangelho de Mateus.
Há uma parábola em Mateus 18:21-35, onde Jesus ensina muito bem (nem precisava dizer – Jesus ensina muito bem – é um pleonasmo - perdão) sobre a importância de perdoar quando somos perdoados.
Jesus nos ensina com essa história que uma maneira de revelarmos gratidão a Deus pelo seu amor e perdão que recebemos sem merecer, é perdoar, também, a quem nos tem ofendido.
A parábola é sobre uma pessoa que tinha uma enorme dívida e foi perdoada, mas que não perdoou a quem lhe devia uma dívida bem menor. Em agindo assim, ele se revelou totalmente ingrato e indigno do amor e do perdão recebidos de Deus. Isso acaba sendo uma grande injustiça aos olhos de Deus.
Outro ensino notável no Evangelho de Mateus é sobre a presença de Deus no meio de nós. O Senhor está conosco (Mt. 1:23; 28:20). As promessas de Deus no Antigo Testamento expressas indiretamente através de símbolos (sombras/tipos) como o tabernáculo e o templo, ou diretamente como podemos ver em inúmeros textos:
Em Êxodo 33:14, Deus disse a Moisés: Eu estarei com você e lhe darei vitória.
Em Deuteronômio 31:6,8, Moisés disse para o povo do Senhor: Sejam fortes e corajosos, não se assustem, nem tenham medo, pois é o Senhor nosso Deus quem irá com vocês. Ele não os deixará, nem os abandonará.
As promessas da presença de Deus em sua vida e na minha vida, no meio de seu povo, são inúmeras (Js. 1:5,9; Sl. 23:4; Is. 7:14; 41:10; Sf. 3:17; etc.).
O Evangelho de Mateus começa dizendo que Jesus, o Filho de Deus, o Cristo, é o Emanuel – Ἐμμανουήλ – (lê-se: emanouel – Mt. 1:23) - עִמָּנוּאֵל - (lê-se: immanuel – Is. 7:14) - o Deus conosco – que foi prometido. E o Evangelho termina com a promessa do Emanuel, de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus: Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos (Mt. 28:20).
O Evangelho de Lucas
O Evangelho de Lucas é o maior dos Evangelhos e dos livros do Novo Testamento.
Baseados nos prólogos dos livros: Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, podemos dizer que o autor e destinatário de ambas as obras são os mesmos (Lucas 1:1-4; Atos 1:1-5).
Autor: Lucas, o médico que era amigo e companheiro do apóstolo Paulo e que é citado em suas cartas aos Colossenses, II a Timóteo e a Filemom (Cl. 4:14; II Tm. 4:11; Fm. 1:23).
Destinatário: Theófilo, a quem Lucas chama de excelentíssimo - κράτιστε Θεόφιλε – (lê-se: krátiste Theófile – vocativo, masculino, singular – a primeira palavra: κράτιστε – é um adjetivo. A segunda palavra: Θεόφιλε – é um substantivo).
Esse tratamento usado por Lucas ao seu destinatário: κράτιστε – (lê-se: krátiste) - é um epíteto oficial, usado para se dirigir a uma pessoa, normalmente com cidadania romana, de alta posição social ou política.
Embora o Evangelho de Lucas e o Livro de Atos sejam endereçados a uma figura chamada de excelentíssimo Theófilo, é um erro presumir que o escritor, Lucas, se destinasse exclusivamente ao prazer da leitura de uma pessoa ou que essa pessoa, Theófilo, quisesse sozinho ler e tomar conhecimento do conteúdo dessas obras: O Evangelho e O Livro de Atos.
Cremos que essas obras escritas por Lucas foram destinadas não apenas a um amigo específico ou a uma determinada autoridade social ou política, mas destinada à leitura de todos que estavam ligados a Theófilo e a Lucas. É possível que essas obras tenham como destino final uma comunidade mais ampla, uma igreja de Jesus Cristo.
É possível que Theófilo tenha sido o responsável por encomendar o projeto, um mecenas rico que investiu o dinheiro necessário para cobrir o custo considerável da produção desses dois volumes: Lucas-Atos. Essa produção literária fez de seu escritor, Lucas, o mais notável e profícuo do Novo Testamento.
Possivelmente Lucas escreveu as suas obras na cidade de Antioquia da Síria, de onde, acredita-se, Lucas era natural. Isto é corroborado pelo fato de Antioquia ter sido um importante centro de propagação do cristianismo entre os gentios, e os escritos de Lucas refletem uma forte influência helenística. Essa cidade era um importante centro da cultura e do comércio helenístico. Ela se tornou muito conhecida por ter sido o local onde os seguidores de Jesus foram chamados de "cristãos" pela primeira vez (At. 11:26). A Igreja que havia nessa cidade serviu como base para as viagens missionárias de Barnabé e Paulo (At. 13:1-3).
A Antioquia da Síria não deve ser confundida com a Antioquia da Pisidia. A primeira encontra-se na Síria. A segunda, Antioquia da Pisidia, está localizada na atual Turquia. O apóstolo Paulo saiu da Antioquia da Síria em sua primeira viagem missionária (At. 13:1-3), e visitou a Antioquia da Pisídia durante essa primeira viagem missionária, e foi lá que proferiu um sermão extraordinário na sinagoga (At. 13:14-52).
Lucas apresenta Jesus como um ser humano perfeito e extraordinário em termos humanos e divinos.
O ministério de Jesus começa na Galileia, de acordo com Lucas 4:14, ao norte de Israel, logo depois de seu batismo e sua provação no deserto (Lc. 3:21-4:13).
Alguns dos temas mais preciosos no Evangelho de Lucas são:
1. A oração
A vida de oração de Jesus (Lc. 3:21-22; 5:15-16; 6:12-13; 9:18; 9:28-31; 11:1-2; 22:32; 22:40-46; 23:34). A maior ocorrência do verbo orar no Novo Testamento grego - προσεύχομαι – (lê-se: prosseúkomai – 19 vezes) encontra-se no Evangelho de Lucas, e o segundo livro com maior número de ocorrências dessa palavra é Atos dos Apóstolo, que é, também, de autoria de Lucas. A oração era um dos temas favoritos desse escritor, isso é inegável com base nesses dados.
2. O Espírito Santo
O Espírito Santo é significativo e único no Evangelho de Lucas. Ele é a força que impulsiona o ministério de João Batista (Lc. 1:15), que anunciou a vinda de Jesus batizando com o Espírito Santo (Lc. 3:16). O ministério do pai de João Batista, Zacarias, foi marcado pelo Poder do Espírito Santo (Lc. 1:67). O nascimento de Jesus, a sua concepção, foi obra do Espírito Santo (Lc. 1:35). A fonte de revelação para Simeão, que era um homem piedoso e esperava a Salvação de Israel, foi o Espírito Santo. Guiado pelo Espírito Santo, Simeão foi à Casa do Senhor. O Espírito Santo havia prometido a Simeão que ele não morreria antes de ver o messias. Quando Simeão pegou Jesus, ainda criança, para consagrá-lo ao Senhor, Simeão louvou a Deus por ter cumprido a Sua promessa (Lc. 2:25-32).
No Evangelho de Lucas, o Espírito Santo está, também, intimamente associado ao ministério de Jesus e é descrito como o poder de Deus em toda a Sua vida. Quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre ele (Lc. 3:21-22). Lucas diz que Jesus estava cheio do Espírito Santo quando voltou do Jordão e foi levado, pelo Espírito Santo, para o deserto (Lc. 4:1). Jesus volta para a região da Galileia para realizar o seu ministério pelo poder do Espírito Santo (Lc. 4:14). Ao participar de um culto na sinagoga, em Nazaré, Jesus lê o texto do profeta Isaías 6:1-3 – “O Espírito do Senhor me escolheu para levar boas notícias aos pobres, libertar os presos, dar vista aos cegos, curar os oprimidos” (Lc. 4:16-20). Jesus ensinou aos seus discípulos que o Pai, que é bom, dá aos seus filhos o Espírito Santo, para tanto, basta pedir (Lc. 11:13).
3. O amor de Jesus (o amor de Deus) por todos e não apenas pelos judeus
Na genealogia de Jesus, ele é apresentado como o filho de Adão, o filho de Deus (Lc. 3:23,38). Através de Jesus, nós temos Deus criando uma nova humanidade.
Nas histórias mais conhecidas do Evangelho de Lucas: a Parábola do Bom Samaritano (Lc. 10:25-37), as parábolas das coisas perdida (ovelha, moeda e filhos – Lc. 15:1-32) e a parábola do rico e do Lázaro (Lc. 16:19-31) nós temos exemplos extraordinários da graça de Deus alcançando a todos pecadores, a todos os marginalizados em nossa sociedade. Os líderes religiosos, ao ouvirem Jesus e verem-no com os pecadores, o criticavam com ódio (Lc. 15:1; 19:7; etc.).
Jesus ama a todos os doentes na esperança de que eles sejam curados com o seu amor, se arrependam de seus pecados e creiam na sua graça. A ênfase no amor universal de Deus revelado por Jesus Cristo no Evangelho de Lucas é singular. Ele ama a todos: judeus, samaritanos, gentios, homens e mulheres, pobres e ricos. Lucas conta a história da cura dos 10 leprosos, e destaca que o único que voltou para agradecer a Jesus foi um samaritano (ou estrangeiro – Lc. 17:11-19).
Há religiosos que amam as pessoas porque elas merecem, mas Jesus nos ensina a amar as pessoas porque elas precisam e não porque elas merecem.
Sem dúvida o Evangelho de Lucas tem como destinatários, de uma maneira especial, os estrangeiros, os samaritanos, todos aqueles que pensam (ou pensavam) que estavam fora do alcance da graça (do amor) de Deus.
4. O risco do amor as riquezas
O amor as riquezas é outro tema que encontramos no Evangelho de Lucas.
Ele nos apresenta um rico sem juízo que só pensava em seus bens materiais. Esse homem pensava que tinha tudo o que precisava para ser feliz. Ele ignorava que precisamos é de Deus, de sua Palavra, de seus valores, de seu amor e perdão, para sermos felizes (Lc. 12:13-21).
Lucas apresenta Jesus falando sobre a tragédia na vida daqueles que vivem preocupados com as riquezas deste mundo, mas não com as riquezas de Deus, de Sua Palavra, de Seu Reino. Esses que assim vivem, feito loucos, só têm migalhas para os pobres e para a Igreja do Senhor (Lc. 16:21). Foi dentro deste contexto que Jesus disse: “Como é difícil, os que amam as riquezas entrarem no Reino de Deus” (Lc. 18:18-25). Os que amam as riquezas nunca têm o bastante, por isso são mesquinhos.
Conclusão
Depois dessas breves considerações dos Evangelhos Sinópticos , esperamos que sua visão da vida, ensino e obra de Jesus Cristo possa ter sido enriquecida.
O estudo, pois, dos Sinópticos, nos ajuda a compreender as semelhanças e diferenças entre os Evangelhos (as obras – cada uma delas), os evangelistas (os escritores – cada um deles), os destinatários de cada um deles (as igrejas – cada uma delas em diferentes lugares).
Assim sendo, o estudo dos Sinópticos, nos ajuda a construir um quadro mais completo do pensamento (da teologia) de Jesus Cristo e da igreja primitiva.
Na esperança que seja útil.
Pastor Washington Roberto Nascimento.
Bibliografia
1. https://sites.utoronto.ca/religion/synopsis/meta-5g.htm
2. https://sites.utoronto.ca/religion/synopsis/
3. Bruce Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, 2ª edição, Hendrickson Publishers, 2005. 740p.
Metzger também afirma: Os últimos versículos do texto comumente recebido de Marcos estão ausentes dos dois manuscritos gregos mais antigos, do códice latino antigo Bobiensis, do manuscrito siríaco sinaítico, de cerca de cem manuscritos armênios, e dos dois manuscritos georgianos mais antigos escritos em 897 d.C. e 913 d.C.
4. Tuckett, Christopher. Q and the History of Early Christianity: Studies on Q. London: T&T Clark, 2004. 528p.
5. Strong's Exhaustive Concordance of the Bible with Brief Dictionaries of the Hebrew and Greek Words of the Original with References to the English Words. Editora Royal Publishers, Inc. 1975.
6. NIKLE, Keith F. The Synoptic Gospels. Editora John Knox Press. 1980. 198p.
7. THROCKMORTON, Burton H. Jr. (Editor). Gospel Parallels, NRSV Edition: Comparison of the Synoptic. Editora Thomas Nelson. 1992. 256p.